O Relógio de Cuco
O Relógio de Cuco…
Mais um texto da minha querida neta Inês que me fez também viajar no tempo…eu sou como ela, os mesmos genes que nos fazem juntar coisas, sem valor comercial, mas às quais nos prendemos depois sentimentalmente…cada objecto tem para nós uma história que no fundo são pedaços da nossa vida,,,o passado nunca morre e, sem ele, a nossa mente ficava vazia.
Hoje em conversa com a Maria (que bom que é tê-la por perto) falámos das casas, das nossas vidas e das casas das nossas vidas. Do que guardámos, do que tivemos, da nossa bagagem. As casas são para ser feitas com calma e como a nossa existência, nada chega nunca a estar perfeito. Trazemos pedrinhas da praia, herdamos coisas que amamos e outras que só não ficam muito mal. Aproveitamos lixos e relíquias, compramos porcarias, achados, bugigangas e aos poucos as casas transformam-se em histórias, cada parede um capítulo da família, das viagens, dos amores.
Há uns anos perguntei à minha tia Zefinha (que já é tia trisavó) se podia ficar com o relógio de cuco lá do monte. – Ai filha, leva-o, és como o teu avô, só gostas das porcarias.
Lá vim eu do Alentejo toda contente com o meu relógio preferido no colo. O absurdo de um relógio de cuco sem cuco que já não dá horas. O relógio da menina do baloiço que saltava pendurada de uma mola. Agora na minha sala, vive ao lado das imagens das fotógrafas do livejournal dos 90, das gravuras da casa dos meus pais nos 80, dos quadros que comprei em feiras e dos que fiz por aí. Todos juntos, cada um conta um conto e acrescenta um ponto e á noite imagino-os a conversarem sobre as casas onde moraram, sobre os países donde vieram, do que viram e do que ouvem e de como cada um com a sua nota formou uma harmonia.
António José Zuzarte, Costa da Caparica, 7 de Setembro de 2016.
Foto e texto de Inês Maldonado.
Mais uma vez adorei lê-lo.
Viagens no tempo, que nos enchem o coração.
Zélia.