Santos: Raízes Profundas
Existem diversas teorias que procuram decifrar a origem do S. João em Almada. Se por um lado as festas de S. João podem ser consideradas cósmicas, daí a sua ligação ao solstício de Verão e aos campos, por outro são histórico-religiosas, pois o dia 24 de Junho será o dia do nascimento do Santo.
No entanto, a imagem de um S. João “austero” é negada pelo carácter popular que as festividades assumem. A festa, extrovertida e popular, pela grande variedade de aspectos que apresenta e riqueza da sua problemática e das suas significações, nomeadamente no que se refere às virtudes das ervas, do fogo e das águas nessa noite, às fogueiras e banhos rituais e práticas divinatórias, relacionadas sobretudo com o casamento, a saúde e a felicidade, dão a imagem do S. João “casamenteiro” e por vezes “brejeiro”.
As razões apontadas para a rápida integração das marchas no calendário da cidade carecem de sustentação, mas sabe-se que reforçam a identidade e alimentam a competição com base em antigas rivalidades bairristas. Tendo em conta esta necessidade de ligação com o passado, as comemorações oficiais são inicialmente o núcleo central que serve de pretexto para convocar os momentos eleitos da história e para consolidar esta nova prática social.”
O Sector de Acção Cultural da Câmara Municipal de Almada, após investigação, destaca uma hipótese que não pretende ser completa, nem conclusiva. Acredita-se que estas festas serão as herdeiras das comemorações do solstício de Verão, que se festejava no dia em que a Igreja Cristã definiu como o dia do nascimento de S. João, para talvez, de alguma forma aproveitar a grande adesão popular a estas festas, transformando-as, ou pelo menos tentando, em manifestações de fé cristã. O que em Almada falhou, na nossa opinião redundantemente, porque ao longo dos tempos, a comunidade cristã mais consequente, sempre esteve afastada da própria procissão do S. João, enquanto o resto da população era o “motor” que ao organizar e ao impor a sua organização levava a que esta tradição antiquíssima se não perdesse, mas ao mesmo tempo impunha na própria festa cristã, todos os ritos pagãos, dos frutos, da vinha das ligações amorosas.
A discussão à volta da vocação das marchas e da sua viabilidade futura esteve sempre latente. Já nos anos noventa, se questionou a sua eterna vocação “passadista” e o alegado desfasamento deste tipo de festividades em bairros com os de antigamente. Apesar disso, as marchas resistem, mais ou menos populares, com o espírito de despique bairrista intacto.