SFUAP NO CORAÇÃO DA PIEDADE
Existe um espaço na Cova da Piedade verdadeiramente impulsionador da história do concelho, e todos lhe conhecem bem o nome. É no Largo 5 de Outubro que a SFUAP tem morada desde que foi criada, pelos seus 15 fundadores. A 1ª sede foi inaugurada a 23 de Outubro de 1889, na chamada “Casa dos Freitas”, ao lado da capela da Cova da Piedade. Actualmente, a sociedade está sediada no nº37, praticamente ao lado.
A visita a esta coletividade, que começa pelo interior do edifício de três pisos onde é a secretaria e as escolas de música, vem-se a revelar uma experiência com história, e não apenas pelo espólio presente na Sala dos Troféus. As madeiras antigas denunciam bem o peso dos anos e a quantidade de salas existentes parece um labirinto para quem não está habituado ao cenário.
Não é o caso de Leonor Silva, Chefe de Serviços, que nos orienta, e que trabalha na coletividade desde 1975. Também Luís Gonçalves não corre o risco de se perder nesta casa que tão bem conhece e onde abraçou o cargo de Presidente há cerca de 16 anos. “Curiosamente não tinha nenhuma relação especial com a SFUAP, fui desafiado por um grupo de amigos da colectividade por entenderem que o meu percurso profissional poderia ser útil”. Licenciado em Direito e dirigente autárquico, Luís Gonçalves equipara a coletividade a “uma média-empresa, com mais de 100 trabalhadores, que representa um orçamento anual de cerca de dois milhões de euros”. Considera que “ao nível do concelho de Almada não há muitas entidades com a dimensão da SFUAP, sendo que esta não deixa de ser uma sociedade sem fins lucrativos e de utilidade pública”.
Por ocasião do 130º aniversário da SFUAP, foi publicado o livro “Pais Fundadores da Sociedade Filarmónica União Artística Piedense (SFUAP) e do Teatro Garret”, da autoria de António Policarpo. Para esse efeito, fez-se um levantamento que refere que a SFUAP integra 11700 associados, cerca de 100 trabalhadores e outros colaboradores e 6162 participantes nas suas múltiplas actividades: ginástica (rítmica, acrobática, especial mista e pequenotes), judo, aikido/iaido, natação (desportiva e escolas de natação/actividades aquáticas, pilates, ballet, dança contemporânea, escolas de música (formação musical e formação para a banda), banda filarmónica e no Parque de Campismo. “Estes dados reais do final de 2019 funcionam como um retrato do momento”, explica o Presidente que admite que meses depois poderão estar desatualizados, ainda que pouco.
A SFUAP tem sido inúmeras vezes reconhecida pelo seu contributo. Foi-lhe atribuído o Troféu Olímpico do Comité Olímpico Português, o Troféu de Mérito e Placa de Mérito da Federação de Campismo e Caravanismo de Portugal e a Medalha de Bronze pela Federação Portuguesa de Natação, Medalha de Mérito Desportivo, pela Secretaria de Estado do Desporto e Medalha de Ouro da Cidade de Almada.
E TUDO A PANDEMIA MUDOU
Com o aparecimento do novo coronavírus, a SFUAP viu-se forçada a cessar as actividades culturais e desportivas, bem como o atendimento presencial aos associados e utentes, a partir do dia 14 de março, três dias após a Organização Mundial de Saúde decretar a doença como pandemia.
Desde o início de Junho, “a retoma das actividades tem vindo a decorrer de forma sectorial, faseada e com significativas limitações, assegurando-se o cumprimento das regras oriundas da DGS – Direcção-Geral da Saúde”. Luís Gonçalves salienta que “nalguns casos e na medida das possibilidades tem sido feito trabalho online e também ao ar livre”.
Admitindo que possa haver algum receio por parte das pessoas no regresso a esta casa colectiva, o Presidente explica que “previamente à reabertura de cada uma das actividades promovemos diversas reuniões com pequenos grupos de pais e respectivos técnicos para divulgar o que tínhamos entretanto preparado e as condições necessárias para o cumprir. Em face desta divulgação temos vindo a constatar um progressivo regresso, ainda que estejamos longe da chamada “utilização normal”.
As maiores dificuldades sentidas pela coletividade no contexto de pandemia são sobretudo de natureza financeira, com a substancial quebra de receita por uma paragem forçada de meses, redução do número de utentes e por outro lado no aumento das despesas.
Os procedimentos de prevenção e controlo para Espaços de Lazer, Atividade Física e Desporto e Outras Instalações Desportivas exigidos pela DGS, acarretam custos significativos. “Para podermos dar uma resposta adequada, para além de algumas adaptações de espaços físicos, da aquisição de produtos e equipamentos específicos, houve ainda a necessidade de reforçar o pessoal nas áreas de higiene e limpeza, em consequência do aumento de intervenções diárias”. Todas estas normas de segurança em vigor acabam por ter repercussão no desempenho económico da colectividade, e como tal “o presente, bem como o futuro próximo revelam naturais preocupações”.
O encerramento forçado e temporário da SFUAP “afectou estimadamente cerca de 7000 pessoas, incluindo os campistas, os praticantes das diferentes modalidades nas áreas da música e do desporto, bem como cerca de três dezenas de técnicos eventuais ligados directamente a ambas as áreas”. Não recorrer ao regime de lay-off foi uma opção, assumindo uma atitude que segundo Luís Gonçalves está em consonância com os princípios da instituição, “A colectividade tem tido como orientação geral o respeito por todos os que relacionam no âmbito do seu universo, incluindo os trabalhadores e respectivas famílias, procurando sempre pôr em prática a solidariedade entre sectores e actividades”.
Em Junho, a Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto calculava que houve perdas de 395 milhões de euros nas associações recreativas. Quanto à estimativa dos prejuízos resultantes da actual pandemia, o Presidente admite que “até ao momento considerámos já perdidas algumas centenas de milhares de euros, para o conjunto das actividades. O impacto para o futuro é muito incerto e difícil de estimar, na medida em que está muito dependente da própria evolução do processo pandémico, mas seguramente que terá uma enorme influência na redução das receitas”.
Quanto aos apoios do Estado face a esta situação atípica, Luís Gonçalves admite que nunca tiveram “ilusões relativamente à possibilidade prática de podermos vir a receber apoios significativos de quem quer que seja, compatíveis com a dimensão, a importância relativa e as necessidades da colectividade”. No entanto, assinala uma meritória excepção: “A União das Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas, apesar da sua capacidade orçamental bastante limitada, fez um esforço significativo na ajuda monetária às colectividades da respectiva área geográfica. À SFUAP couberam 3000€ para as suas actividades gerais e 2000€ especificamente para a Banda Filarmónica”. E é este o único apoio concreto que registam até à data.
OUTROS IMPREVISTOS, MUDANÇAS E INCENTIVOS
Recuando agora algumas décadas no tempo, serão ainda muitos os que se recordam do incêndio de Dezembro de 1987. “Como consequência, a colectividade ficou sem as instalações sociais e houve oportunidade de utilizar este edifício” onde actualmente é a sede, e para onde se mudaram em 1988.
Esta casa centenária era o palácio da família Gomes, numa altura em que a zona da Cova da Piedade era composta por quintas. No âmbito da construção da nova urbanização, nas traseiras da SFUAP, passou a pertencer à Câmara Municipal de Almada. Como o presidente explica, “acabou por dar-se aqui uma ocorrência feliz. A família Gomes esteve na génese e foi sócio benemérito da coletividade e a SFUAP acabou por mais tarde se instalar no local onde fora a própria residência da família”. No entretanto, “existe relato fotográfico detalhado que no pós 25 de Abril este edifício chegou a ser ocupado pela organização LUAR- Liga de Unidade e Acção Revolucionária e funcionou com uma espécie de clínica médica, algo do género”.
“Então quando para aqui nos mudámos, ele estava em perfeita degradação, foi um trabalho muito significativo da nossa parte”. A SFUAP ocupou as instalações sem nenhuma formalização por parte da CMA, a posteriori o espaço foi-lhes cedido oficialmente através de um contrato de comodato, “em que na prática a utilidade da nossa estadia aqui foi mútua, na medida em que por um lado nos resolveu uma dificuldade e por outro fomos preservando o edifício”.
Luís Gonçalves refere que apesar desta cedência da CMA, a recuperação ficou a cargo da coletividade. “Muito do trabalho executado, designadamente ao nível de madeiras, foi mérito de Rui Monteiro, um dos elementos da banda, já falecido, que era um excelente marceneiro”. Oferecia o seu trabalho voluntariamente e a SFUAP comprava os materiais, era esse o acordo. “Portanto muito do que aqui se vê hoje é de nossa iniciativa, fomos fazendo as intervenções de manutenção e rotina anualmente”.
Há cerca de cinco anos solicitaram à Câmara, a proprietária, um reforço estrutural, antevendo os problemas que possam surgir das fragilidades dum edifício tão antigo. Como tal, a CMA desenvolveu um projecto de intervenção que prosupunha que “pudéssemos ser deslocalizados temporariamente para infraestruturas aqui na Cova da Piedade, durante essa intervenção e depois regressaríamos”. Este projecto exaustivo incluiu picagens várias nas paredes, algumas ainda visíveis, para avaliação da situação.
Já no actual mandato autárquico do PS foi-lhes comunicado que a intenção seria não ficar apenas pela intervenção estrutural requisitada, mas fazer um arranjo mais completo do edifício. “Estamos na expectativa de quando é que essa intervenção se fará. Não temos pressionado a CMA, pois a informação que temos é que está encaminhado, e se a autarquia se propõe a fazer mais e melhor, temos estado a aguardar com serenidade”, ainda assim “com grande preocupação, pois temos receio que a demora na execução possa vir a causar algum constrangimento mais desagradável”. O contrato de comodato foi realizado por período de 30 anos, “portanto não temos a expectativa nem a garantia de ficarmos aqui para sempre”.
A SFUAP pretende ainda realizar obras significativas nos espaços que são sua propriedade, designadamente as piscinas, o complexo desportivo e o Teatro Garret, área contígua à igreja, cuja fachada tem um mural com grafitties alusivo à coletividade. No entanto, também essa não se tem mostrado tarefa fácil, por acarretar custos elevados, neste caso à própria entidade, e envolver uma grande mobilização em termos de logística, para compatibilização das actividades culturais e desportivas. “A nossa intenção é priorizar as obras do Teatro Garrett, dar-lhe utilidade e fazer dele porventura um espaço privilegiado para a banda. Ficaria integrado com as restantes instalações, mas mantendo alguma diferenciação e autonomia, sobretudo com o intuito de preservar a memória histórica”. Por falta de condições, não se realizam aqui actividades.
“Queremos sempre trabalhar no sentido de melhorar. Já me foi dito que o ginásio da SFUAP é dos melhores a nível nacional para a prática da ginástica rítmica, que exige um pé direito alto, para que as meninas possam lançar aparelhos próprios desta modalidade ao ar, sem risco da estrutura do edifício lhes perturbar ou limitar o exercício”. Ainda assim o Presidente admite que “no que respeita ao conforto terá com certeza alguns aspetos que não estão ao mesmo nível de qualidade”.
A CMA apoia igualmente as quatro coletividades do concelho com banda filarmónica, designadamente a Sociedade Filarmónica União Artística Piedense, a Academia Almadense , a Incrível Almadense e a Sociedade Recreativa Musical Trafariense, com uma verba anual de 4500€, destinada à aquisição de instrumentos musicais e fardamento da banda.
Este financiamento “sofreu algumas oscilações com a mudança do anterior mandato autárquico para o actual, transição em que ocorreu aqui uma interrupção e ficámos com condições inferiores às que tínhamos”. Anteriormente o valor recebido era de 5000€ anuais e o compromisso da banda disponibilizar três serviços anuais, como concertos a pedido da CMA, “é um apoio mas ainda assim com contrapartida”, como reconhece o Presidente da SFUAP. Actualmente com o orçamento de 4500€ têm de prestar cinco serviços da banda. “Entretanto na sequência dos diálogos que têm vindo a ser estabelecidos, neste momento já há o consenso de retomarmos os 5000€ mas mantendo os cinco serviços.
“Obviamente que valorizamos todos os apoios, não somos ingratos, mas temos de admitir que o que recebemos é muito pouco significativo”, assume Luís Gonçalves, “Os professores são pagos, e para conseguirmos suportar o funcionamento da banda e das escolas de música, com toda a logística associada, isto em termos orçamentais traduz-se ainda valores elevados. Portanto todas estas actividades desenvolvidas são genericamente deficitárias. O orçamento anual de receitas e despesas é, de grosso modo, cerca de dois milhões de euros cada.” Nenhum membro dos órgãos sociais aufere o que quer que seja, e em muitos aspectos são os próprios a suportar custos como deslocações, em regime de voluntariado, como tem sido tradição até então.
Para além dos apoios pontuais destinados à banda filarmónica e Marchas Populares de Almada, a Sociedade Filarmónica União Artística Piedense não obtém mais nenhum financiamento por parte da CMA. “Existe ainda assim uma colaboração mútua que muitas vezes não se traduz em valores financeiros, mas em aspectos como a cedência do Complexo Municipal dos Desportos Cidade de Almada, no Feijó, para algumas actividades específicas da coletividade”, reconhece Luís Gonçalves. “A União das Freguesias tem sido um parceiro relevante, e nós também facultamos os nossas instalações a eventos que pretende realizar aqui na Cova da Piedade, o que tem ocorrido com alguma frequência. Aconteceu nas Festas da Cova da Piedade, quando o jardim estava em obras e o palco central para os conjuntos musicais foi montado no espaço que utilizamos como parque de estacionamento”. A cerimónia de reabertura do Jardim realizou-se a 13 de Março.
“Nós temos conseguido equilibrar as contas com muito esforço e com uma mais-valia que tem vindo da gestão do nosso Parque de Campismo, na Costa da Caparica. Não fosse a existência deste e era impossível mantermos o nível das actividades de cariz cultural e desportivo e da banda filarmónica”. Refere-se ao Parque de Campismo da SFUAP, localizado junto da Praia da Mata, inaugurado em 1974. Salienta a importância dos parques de campismos da Costa da Caparica, “para muitas famílias que doutra forma não teriam hipótese de desfrutar das férias”, e da contribuição dos mesmos para o desenvolvimento da Costa, com o movimento permanente gerado pelo campismo durante anos”.
“A perspetiva do parque desaparecer seria uma coisa absolutamente dramática, pois implicaria a inviabilidade da coletividade tal e qual a conhecemos. Tudo o que aqui está sofreria um fortíssimo abalo”. E a verdade é que o sofreu, nestes últimos meses, com o encerramento a 20 de Março, imposto pelo aparecimento da Covid-19. O parque de campismo reabriu a 25 de Maio, e respeitando as restrições da DGS, “encontra-se agora limitado a dois terços da sua lotação total, estando suspensas as visitas e as pernoitas ocasionais”.
AO SERVIÇO DA CULTURA, RECREIO E DESPORTO
A banda filarmónica foi o propósito da formação da coletividade, que posteriormente acabou por ir alargando a sua intervenção ao nível da formação específica das pessoas, que era uma necessidade muito sentida. Foi na SFUAP que funcionou a primeira escola primária da Cova da Piedade, onde se instruía não só crianças mas habitantes de todas as idades, numa altura em que o ensino público era praticamente inexistente. Esta escola funcionou até 1911, ano em que se construiu a Escola Primária António José Gomes.
Em 1947 foi criada a Biblioteca da SFUAP, que durante mais de 40 anos foi enriquecendo o seu espólio, parte do qual se viria a perder no incêndio que destruiu quase totalmente o edifício onde esta se encontrava. Ainda assim muitos livros foram salvos das chamas e a reconstituição da nova biblioteca não tardou. A paixão pelo teatro e a sua expressão cénica é quase tão antiga como a própria coletividade. A chegada da actividade cinematográfica à SFUAP dá-se em 1943, no Teatro Garrett, que adaptou o palco para receber o grande ecrã. Em 1986, os filmes comerciais saíram de cena com a acumulação de prejuízos para a sociedade, mantendo-se apenas cinema com intuitos culturais.
A SFUAP ampliou desde cedo a sua actuação para a vertente desportiva “onde tem uma evidência muito significativa a nível nacional, tendo já inclusivamente atletas da SFUAP participação olímpica, quer na natação, quer na halterofilia”, enaltece o seu Presidente. “Actualmente, na natação temos a masculina na 1ª divisão e a feminina na 2ª, mas de uma forma consistente temos andado sempre nos lugares cimeiros a nível nacional”.
Em Almada, a SFUAP tem neste momento a única piscina associativa do concelho, e por estas águas, das braçadeiras às braçadas, quer no lazer quer na competição, memórias pessoais e coletivas não faltarão. As modalidades desportivas são praticadas no Complexo Desportivo, no nº 5 da Rua União Piedense.
Luís Gonçalves vai enunciando as conquistas da coletividade “ao nível da ginástica rítmica, neste momento estamos num ponto um pouco mais baixo, mas até há pouco tempo a base da Seleção Nacional da ginástica rítmica era da SFUAP, com praticamente todas as atletas, à exceção de duas de outros clubes. A SFUAP venceu a Taça de Portugal – Ginástica Rítmica durante sete anos, cinco consecutivos e dois interpolados”. Tem participado diversas vezes no Gymnaestrada.
O Presidente orgulha-se de integrar uma associação que “contribui para a formação dos jovens que constituem a nossa comunidade. Temos tido como lema que o nosso propósito maior não é formar campeões, é formar pessoas, sendo que naturalmente estamos cá para reconhecer e aplaudi-los quando eles surgem”.
Esta sociedade ao serviço da cultura, recreio e desporto, tem duas escolas de música. A escola de formação musical, com modalidades mais clássicas como o piano, violino e guitarra. Em diferentes salas, as professora Mariyna Trofymenko e Paula Carvalho aguardam os alunos para uma aula de piano. Existe ainda a escola de formação para a banda filarmónica, com os instrumentos típicos, em que a grande parte dos alunos que a frequenta vai integrando a Banda Filarmónica da SFUAP consoante a sua evolução musical. ”No caso da filarmónica, temos a sorte de ter connosco o maestro Carlos Ribeiro, há cerca de 19 anos, que foi maestro da Banda da Marinha e da Banda da Carris. Estamos muito satisfeitos com a reconhecimento que nos tem sido atribuído”.
Os aniversários da SFUAP são sempre comemorados com o hastear da bandeira às 00h de 23 de Outubro, e o hino. Tendo em conta a hora tardia, não é costume estar muita gente a assistir, mas têm mantido essa tradição. Por essa ocasião, “a nossa banda faz uma arruada aqui pelas ruas das proximidades, cumprimentando as entidades e a população em geral. Há ainda o Concerto de Gala, no nosso ginásio, que é o momento mais alto em termos de brilhantismo e qualidade que a banda apresenta. Também é costume fazermos um torneio de natação comemorativo”. Para encerrar as festividades, que duram cerca de mês e meio, faz-se uma sessão solene.
O XVIII Concerto de Ano Novo teve lugar, em Janeiro, no Fórum Romeu Correia, como é habitual todos os anos. Luís Gonçalves atribui-lhe extrema importância, “É um momento exaltante, de grande qualidade e continua a reunir imensa gente. A dificuldade é conseguir acolher todas as pessoas que pretendem assistir”.
Esta associatividade é também para os utentes uma herança familiar que vai passando de pais para filhos e netos, a confiança que conquista por parte das pessoas leva a que exista essa continuidade. “Ao nível dos associados, já chegámos a ter três gerações na nossa banda filarmónica, temos pais e filhos, irmãos que vêm porque outros familiares já por cá passaram”.
Se noutros tempos existiu algum tipo de rivalidade entre as coletividades do concelho, ou mesmo entre Almada e Cova da Piedade, isso já se esbateu, como elogia o Presidente da SFUAP. “Actualmente temos excelentes relações e não sentimos nenhuma espécie de competitividade negativa. Sabemos que há espaço para todos. Há momentos em que conseguimos estar num patamar mais alto e num outro faz-se naturalmente a descida e a recuperação, depende das condições de cada coletividade e da estabilidade que consegue reunir”.
A Marcha da SFUAP já havia participado nas Marchas Populares de Almada em 1938, feito que só voltou a retomar o ano passado. Os ensaios já estavam a decorrer no Complexo Desportivo da SFUAP durante os fins de semana, mas o evento foi cancelado. Luís Gonçalves reconhece que na actual situação de pandemia seria impossível a sua realização, “Ainda assim, recebemos a notícia com um misto de serenidade e tristeza, pelo grupo alargado, muito entusiasta e motivado que já tinha iniciado os ensaios cerca de duas a três semanas antes”. Há que saber esperar e acreditar que um melhor ano virá, “Alegra-nos, no entanto, constatar que este grupo não se desfez e tem reforçado os mecanismos de comunicação e interacção, essencialmente através da utilização dos meios digitais. Estamos confiantes que a próxima edição, em 2021, vai corresponder a uma forte e empenhada participação”.
COVA DA PIEDADE
A Cova da Piedade tem vindo a sofrer várias alterações nos últimos anos, e nos dias que correm a Romeira, antigo bairro industrial, está a impulsionar uma nova dinâmica à freguesia. O Presidente da SFUAP considera a mudança benéfica, “São um contributo importante para o lavar da cara desta zona da Cova da Piedade com características muito próprias e peculiares, que tendo uma zona com edifícios recentes, já aqui nas traseiras, ainda assim na generalidade caracteriza-se por prédios antigos e por uma certa desmobilização das pessoas, em que vários factores têm contribuído para tal”.
Luís Gonçalves acredita que estas obras “funcionam também como um marketing positivo” no sentido de levar particulares a recuperar prédios degradados. Há muitas situações em que a CMA pode facilitar e criar condições, e alguns programas têm existido ao nível da reabilitação urbanística que aqui ou ali já se vão verificando”. Considera ser esse o caminho, ainda que demorado, “ao nível do espaço público, ocorrer alguma melhoria e ao nível dos edifícios particulares serem criadas condições quer municipais, quer mesmo governamentais para a recuperação deste património”.
O Presidente refere um aspecto curioso no que a mudanças diz respeito, “A experiência mostra-nos que acontece não poucas vezes, instituições que em determinado momento têm um conjunto de actividades que é significativa e relevante apesar de terem condições físicas deficitárias, quando conseguem adquirir condições magníficas, as actividades tendem a decair”. Ainda assim, salvaguarda que “obviamente que pugnamos por melhorar as nossas condições, mas aqui a valia, quer na qualidade quer na quantidade das modalidades que praticamos na coletividade, tem estado em patamares muito superiores ao nível dos nossos espaços físicos. Temos a consciência que estes precisam de ser intervencionados, mas sem perderem a sua identidade”.
Identidade essa, que tem no seu ADN as danças de outrora. “Os bailes da SFUAP eram uma tradição forte que está ainda na memória de muita gente. Não quer dizer que não possa voltar a haver espaço, pontualmente, para uma festa desta natureza em jeito revivalista, mas jamais duma forma sistemática como ocorreu no passado”. Há cerca de 30 anos eram uma actividade regular aos fins de semana, mas tudo tem os seus ciclos, os seus tempos áureos e a sua decadência, e os hábitos sociais das pessoas, já se sabe, estão em constante mudança.
A SFUAP, a julgar pelo 131º aniversário que aí vem, vai-se adaptando o melhor que pode a todas as solicitações da sua comunidade e aos obstáculos, como esta crise sanitária e económica que agora se vive. Um dia a casa foi abaixo, mas logo se ergueu, é assim que fazem os resistentes. Também Fénix renasceu das próprias cinzas.