Sol e Mar
Eles chegam, risonhos e desejosos de sol e de mar.
Vêm em grupos, em famílias e até sozinhos, em viaturas próprias ou alugadas noutras paragens. Raros são aqueles que utilizam os escassos e pouco atractivos transportes públicos.
A Costa da Caparica vive, sazonalmente, a agitação de qualquer cidade da beira-mar com a chegada de milhares de veraneantes, atraídos pela beleza das praias e do mar.
As ruas enchem-se então de risos, de cores alegres e de falares pouco habituais na cidade durante os meses mais frios.
Os cafés, esplanadas, restaurantes, hotéis, mercados e lojas ganham nova vida e até o negócio do arrendamento imobiliário não tem mãos a medir e as suas ofertas tendem a escassear.
Porém, um observador isento, facilmente verificará que fora do triângulo constituído pela praia, restaurantes e esplanadas, há poucas ou raras atracções de lazer para o turista.
Não existem na cidade eventos culturais de qualquer espécie. Exposições (pintura, fotografia, escultura, etc.), cinema, museus, livraria, espectáculos musicais ou teatro de rua. Um visitante, nacional ou estrangeiro, chega à cidade e deixa-a alguns dias depois sem receber qualquer informação sobre a expressão cultural mais importante da Costa da Caparica – a Arte Xávega.
O Parque Urbano não é aproveitado na sua plenitude. Exceptuando o Festival Sol da Caparica, nada mais se promove naquele espaço (aliás, até o simples contacto com a Natureza começa a ser progressivamente eliminado com o avanço do asfalto sobre o relvado). No entanto, tanta coisa poderia ali ser realizada. Um festival gastronómico promovendo o excelente peixe da Costa da Caparica – o seu ex-líbris – seria uma atracção irresistível para os visitantes.
Oh! se as autoridades municipais fizessem um pequeno esforço para inverter esta situação, juntamente com a população local, quanta coisa poderia ser feita.
Mas, quando os dias quentes e luminosos terminam, quando os veraneantes regressam às suas casas, as ruas voltam a ficar vazias, os restaurantes e os cafés ressentem-se com a falta de clientes, os residentes recolhem-se cedo às suas casas e a cidade entra numa espécie de hibernação letárgica.
Uma tristeza começa, então, a pairar e lentamente a abater-se sobe a Costa da Caparica. Dizem os mais antigos que é uma tristeza que dói. Eles sabem, pela sua experiência, que é a dor do esquecimento.
Reinaldo Ribeiro