Tempos na Praia das Maçãs
Em tempos na Praia das Maçãs…
Recebi do amigo Joaquim Mexia Alves uma foto, foto já antiga, onde os retratados estavam no tentadero da Quinta do saudoso cavaleiro José João Zoio, na Praia das Maçãs…
O tempo passou e, em 1968 1969, não sei precisar a data, alguns destes aficionados já pensavam em pisar as arenas, o que veio a acontecer logo a seguir… nem todos o fizeram mas foram sempre amigos, verdadeiros amigos, e companheiros que nunca esquecemos. Como posso esquecê-los quando vivemos juntos tantos momentos, com aquele espírito de amizade e entreajuda que une os Homens das jaquetas de ramagens e não só.
Na foto, da esquerda para a direita ,identificamos: Manuel Seabra, Joaquim Mexia Alves (encoberto), João Guimarães, Guilherme Cardoso, Armando Fernandes e, no primeiro plano, o Francisco Pimenta da Gama com um imponente par de patilhas… lá mais atrás vê-se o José Maldonado Cortes que montava os cavalos do Zoio e lhe dava lições de toureio…
Não esqueço que o José João teve a sua cerimónia de alternativa em 27 de Maio de 1973, na praça de toiros do Campo Pequeno, apadrinhado pelo Mestre João Branco Núncio, numa corrida que nunca esquecerei… e tenho razões fortes para isso, pois ao tentar pegar de cernelha o duro “Veiga”, que tinha derrotado o enorme João Eduardo Cortes em três tentativas de caras, quando este ia a encabrestar, fui atingido no peito, mesmo sobre o coração, com uma varada de um dos campinos… e foi o Cortes que, em mais uma tentativa, o pegou de caras… Quando cheguei à enfermaria, depois de ainda assistir, coberto de sangue, à tentativa vitoriosa do grande pegador, o médico, ao abrir a camisa ensanguentada, fez uma cara que me assustou, mas logo verificou que o bico de ferro da vara, ao entrar no músculo do peito, atingiu uma costela e resvalando, fez outra trajectória de saída…As suas palavras foram: “Ressuscitaste por poucos milímetros”, e o que parecia gravíssimo não passou de um grande susto.
Perdi-me a recordar um acontecimento paralelo, mas não posso esquecer que o Guimarães e o Pimenta da Gama já lá estavam no Grupo de Montemor nessa tarde de toiros… Agora juntamos em animados almoços, falamos de toiros, mas a idade não perdoa.
Os tempos da Praia das Maçãs não voltam mais, mas como é bom recordá-los nesta foto com quase cinquenta anos…Como escreveu Eugénia Rico in “Só a água me espera”: « Escrever é como falar…É um diálogo sem resposta. Quando escreves não esperas resposta, ou sabes que a resposta chegará, mas não te chegará a ti.»
António José Zuzarte, Costa da Caparica, 24 de Setembro de 2015.