Tertúlia em Fonte Limpa

FonteLimpa 2A Tertúlia da Costa da Caparica, um grupo composto por pessoas que escrevem poesia e que teve como mentor o Américo Alves e desde o início o apoio da Associação Gandaia, tanto a nível logístico, como divulgando incansavelmente as nossas atividades. A nossa Tertúlia foi no passado dia 9 de junho ler poesia a uma aldeia chamada Fonte Limpa.

Esta é uma aldeia pertencente á freguesia de Alvares, conselho de Góis, distrito de Coimbra, que este ano comemora 500 anos de Foral doado por D. Manuel I.

O nosso amigo Américo, o Tertuliano que em Dezembro do ano transato, conseguiu reunir pessoas que escrevem, dando início a reuniões mensais dedicadas a poetas e ouvintes, é natural desta aldeia, que conta neste momento com apenas 11 habitantes, a maioria idosos, excepto um casal na casa dos 40 anos, com dois filhos menores e que são caseiros na casa mais rica da terra.

É uma aldeia onde se misturam casas remodeladas e as típicas construídas em xisto, a maioria abandonada ou à venda. Em redor as montanhas verdes e irregulares abraçam-na, trazendo o vento e o cheiro intenso dos pinheiros, eucaliptais, flores silvestres, caruma e árvores de fruto

Os seus poucos habitantes, dividem o tempo trabalhando nas suas hortas e a associação onde se reúnem, para ver televisão,  jogar às cartas e conversar sobre os mais variados assuntos. Não dispõe de meios de transporte regulares, sendo Alvares a freguesia mais próxima com 820 habitantes. Com um Centro de Saúde, alguns minimercados, um lar de terceira idade, estação de correios, o museu do ferreiro e alguns cafés. É de táxi que os habitantes de Fonte Limpa têm de lá se deslocar para uma simples consulta médica.

Esta zona repleta de história, está como em tantas outras zonas do interior do País, praticamente ao abandono, devido à fuga dos mais novos, em busca de uma vida mais estável, deixando para trás recordações de uma infância ao ar livre, o que os leva a regressar nas férias ou em algum feriado prolongado e assim se abstraem da correria da cidade, bebendo ar puro, ausência de sons de motores, num sossego somente perturbado por insetos zumbidores.FonteLimpa

Foi sugerido a todos os que fazem parte da tertúlia, viajar para Fonte Limpa, conjugando uma aprazível viajem, com a leitura de poesia naquele local, convite que foi aceite com entusiasmo por 29, dos que regularmente se reúnem no Auditório Costa da Caparica. Tratados todos os tramites inerentes a uma deslocação fora de portas, a aventura começou às 7 horas da manhã, num autocarro da Isidoro Duarte, com destino a Fonte Limpa e paragem em alguns locais emblemáticos daquela região.

Primeira paragem na estação de serviço de Aveiras, para um cafezinho, no intuito de espantar o sono de quase todos nós, pouco habituados a começar o dia a esta hora tão matinal, num ambiente descontraído e informal, cruzaram-se conversas e boa disposição.

Pessoas pouco habituadas a outras paisagens que não as do mar, deliciavam-se com o verde que se avistava das janelas, com montes elevados, vales profundos e riachos encimados por pequenas pontes, cuja antiguidade se perde na poeira dos tempos.

A próxima paragem foi no Miradouro de Nossa Senhora Da Confiança em Pedrógão Pequeno, que se  situa numa montanha frondosa e onde todo o grupo se deslumbrou com a paisagem em redor, vendo-se ao longe pequenas aldeias incrustadas nas encostas da serra ou em vales profundos e a Barragem do Cabril do rio Zêzere, gordo deste lado e do outro serpenteando em fio entre duas serras, atravessado por uma Ponte Filipina, local ideal para que todos aproveitassem para tirar fotos, que registassem para a posteridade momentos de são e alegre convívio, sem que a pressa, apressasse ninguém. Entusiasmados, descemos ate à Barragem onde mais uma vez nos perdemos, entre troca de impressões sobre tudo o que avistávamos e as fotos que tirávamos incansavelmente.

O almoço esperava-nos na Associação De Fonte Limpa, com a presença dos habitantes e o presidente da Junta De Freguesia de Alvares, o professor de história, Senhor Vítor Duarte e o entusiasmo dos tertulianos crescia, enquanto o autocarro galgava a estrada, agora já com muitas curvas apertadas e aldeias que iam desfilando e  que surpreendiam pelo repente como se apresentavam, com o Américo a descrever com detalhes, a história daquela zona, mesmo antes do almoço e já próximos ao destino final, paragem obrigatória numa aldeia com um nome pouco usual e que foi motivo de muitas piadas e risadas e devidamente registada em fotos: a aldeia da  Picha, com um café com o mesmo nome e que comercializa pequenas figuras alusivas em madeira.

Foi comovidos que, chegados à Associação de Fonte Limpa, nos deparámos com a decoração festiva, com as mesas de almoço dispostas em L, cadeiras vestidas de branco e vermelho tinto e arranjos florais. A receção à nossa chegada foi de acolhimento com a simpatia das gentes a alegrar-nos a alma.

O almoço foi confecionado por um restaurante de Tábua, de nome Saborosa e era composto por miniaturas de variedades de salgados, salada de polvo, salada de orelha de porco, favas com entrecosto e enchidos, uma sopa de peixe, o famoso prato típico da região: a Chanfana e sobremesas várias. Dizer que tudo estava divinal é pouco para descrever o repasto, quer fosse dos ingredientes da região, da mão certa do cozinheiro ou do ar que ali passa e nos sussurra calmaria, a sensação que retemos é a de que nada nunca nos soube melhor.

Feitos os agradecimentos da praxe, entre os que chegaram e os que nos receberam e finalizadFonteLimpa 1a a refeição regada com vinho tinto e branco, demos inicio à exploração da aldeia, num dia primaveril de sol raramente ocultado por nuvens brancas e brincalhonas.

À nossa volta abundavam oliveiras, cerejeiras com os frutos já maduros, aos quais não resistimos e comemos ali mesmo, ervas aromáticas, cardos para coalhar o leite e flores silvestres, um casario típico da região, uma capela minúscula surpreendente de beleza, pequenos nichos a Santos dedicados e caminhos estreitos, que ao subi-los nos ofereciam paisagens montanhosas.

Já tardava a hora aprazada para a realização da Tertúlia com os poemas que carregávamos em pastas e eram o verdadeiro motivo da viajem e num circulo de cadeiras brancas, com a assistência dos habitantes da localidade e o presidente da Junta de Alvares, demos inicio à sessão, bebemos as palavras uns dos outros com emoção, depois de um dia repleto de outras tantas emoções.

O dia ia caindo calmo entre as serras e era chegada a hora da partida para a Costa da Caparica, não sem antes nos abastecermos de broa gorda e  suculenta, confecionada por uma senhora da aldeia, com um módico preço e amor no farelo, nem sem verdadeira pena, nos despedirmos daquela gente amável, olharmos em redor, tentando reter na alma e no coração, um dia em que todos os sentidos foram despertados sensoriados, guardados e amados.

accleme

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