Trinta Anos Depois

 

Era Abril e éramos jovens. Tão jovens que, apesar da longa noite, negra e tempestuosa, ainda sonhávamos, e muito!

Esbanjávamos fraternidade, esperança, amor e sonhos. Estes, embora envergonhados e temerosos, lograram concre­tizar-se naquela aurora longínqua.

Exigimos então, despreocupada e incautamente, tudo o que nos roubaram. Tínhamos essa ambição pois éramos sim­ples, mas também éramos jovens, tão jovens e tão ingénuos.

Desconhecíamos que por detrás do sonho, eles riam-se cinica­mente, eles, os senhores das trevas, os donos do abismo, da tris­teza e do tempo. Com a sua imensa experiência sabiam que depois das flores da Primavera e dos calores do Verão chegariam, de novo, os ventos do Outono e os frios do Inverno para nos fustigar.

E como tinham razão!

Agora, quando já sentimos a invernia que se aproxima, recu­samo-nos teimosamente a aceitá-la e ainda resisti­mos. Utopica­mente sonhamos e resistimos, como quando éramos jovens, tão jovens e tão ingénuos …

Reinaldo Ribeiro

25 de Abril de 2004

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Pin It on Pinterest