Um Meia-Lua Original?
Há algum tempo que ouvíamos falar na existência de uma embarcação típica da Arte-Xávega da Costa da Caparica que sobrevivera à destruição de todos os seus congéneres, à exceção daquele que se encontra no Museu da Marinha. Fala-se ainda de um terceiro sobrevivente, comprado por um museu britânico, cuja existência também não podemos comprovar. Nenhuma destas embarcações tem a ver com aquela que a Associação A Mar A Costa mandou construir, da forma mais fiel possível, e em que inclusivamente participámos na fase de estudo,encontrando o imprescindível carpinteiro de machado, em Mira, através da colaboração do nosso amigo e insigne historiador, Alfredo Pinheiro Marques, que veio a permitir, em boa hora, a existência de um Meia-Lua característico das nossas praias. Finalmente, que o intróito já vai longo, ainda tem menos a ver com a embarcação que se encontra na rotunda à entrada do Largo da Liberdade, um Barco de Mar, característico das praias de Mira, feito em Pardilhó, que a Junta de Freguesia adquiriu perante o azarado acidente que destruíu a embarcação original que estava no centro da mesma rotunda.
Regressemos então ao motivo da notícia, que é mesmo notícia. Guiados pelo nosso amigo e artista caparicano João Manuel, lá andámos a bater silvas e campaínhas de quintas até lobrigarmos a silhueta negra do Meia-Lua. Existia! Após várias peripécias, algumas das quais não guardamos as melhores memórias, conseguimos chegar à embarcação, imponente, começando imediatamente a ver – à espanhola – para termos o grande sobressalto: tratava-se de um barco feito em betão armado!
Apenas uma peça – desconcertante – era feita de madeira. Aparentemente, o pescoço parece ter sido feito pelo rodar das cordas próprias da pesca. Porém, também pode ser uma peça de origem completamente diversa, ali colocada pelo dono da propriedade. Aguardamos mais informações.
Uma das possibilidades, que diminuia o desalento, foi apresentada por João Manuel: podia ter sido feita uma recuperação, em betão, a partir de destroços de uma embarcação original e que estariam cobertos pelo betão.
Porém, se compararmos a foto que publicamos acima, com a foto do Meia-Lua presente no Museu da Marinha, podemos facilmente descobrir grandes diferenças, nomeadamente na curvatura própria da nossa embarcação, mais pronunciada do que os Barcos de Mar, oriundos de Vieira de Leiria, Mira, Ílhavo, etc.
Por outro lado, este tipo de embarcações era produzida de forma iterativa, sendo as novas embarcações construídas de acordo com a tradição, mas também alteradas por diversas razões de ordem prática. Sabemos que o seu tamanho foi sendo gradualmente reduzido, acompanhando a realidade das companhas. Ou seja. por outras palavras, não temos elementos suficientes para confirmar qualquer das hipóteses.
Relativamente a esta escultura em madeira, que apresentamos à esquerda, subsiste a questão: tem alguma coisa a ver com o Meia-Lua? Se algum dos milhões e milhões de leitores ávidos e atentos do Notícias da Gandaia, neste planeta, ou mesmo noutros, puder acrescentar alguma coisa a esta história, a população inteira irá agradecer.
Ficámos igualmente à espera de um contacto com o proprietário da Quinta Ararat, herdeiro do Sr. Roberto Gulbenkian de quem podemos esperar algumas informações mais detalhadas. O nosso amigo e colaborador, Pedro Gamboa, Diretor do Auditório, esclareceu a relação entre a família Gulbenkian, de origem Arménia, localização do Monte Ararat, onde, segundo a Bíblia, terá finalmente aportado a Arca de Noé. “Razão pela qual”, acrescentou “batizaram esta réplica de Meia-Lua como Noé”.