Uma dama de provecta idade
Uma dama de provecta idade
Para se contar a vida desta dama, temos de encurtar o calendário tal como o conhecemos e passar a usar decénios por unidade, porem continuando por conveniência a chamar estes de anos.
O seu nascimento, a 5 de Outubro, é muito atribulado pois sua mãe teve várias tentativas de engravidar, mas todas foram abortadas.
Quando nasceu foi retirada a ferros com muita dor e sangue. Mas também se conhece que outros familiares passaram pela mesma tormenta.
A sua adolescência não é brilhante e o seu crescimento é feito aos esticões, próprios de quem quer chegar depressa à maioridade.
Aos 24 anos trava a sua primeira batalha de adulta contra um primo que procurava nela o seu casamento. Prova que não é por ali que quer ir.
A partir dos 27 anos percebe que pode crescer mais, ficar mais adulta e importante e decide que emigrar pode ser uma solução, mas as fronteiras são-lhe adversas.
Só aos 35 anos obtém passaporte para outras terras. Anda um pouco por todo o mundo em sucessivas viagens deixando aqui e acolá o reconhecimento do seu valor e também alguma linhagem.
Mas não sabe bem lidar com esses conhecimentos, tal como outras primas distantes conseguem fazê-lo, deixando laços até hoje indestrutíveis.
O sagrado esteve sempre por perto, mas só aos 40 anos se interessa e sério pela coisa religiosa, quando é confrontada com os temerários inquisidores de então e não consegue arrepiar caminho.
Tem um enorme desgosto com a morte do seu filho dileto, que tem um acidente do qual nunca se recuperará seu corpo. Fica enferma deste desgosto e sem pedir nada a ninguém, de novo aquele primo com quem não casou, vem e sem que lhe seja pedida ajuda, instala-se e dirige a sua vida debilitada.
Acorda dessa letargia e fazendo das fraquezas forças, impõe-se aos 50 anos de idade, expulsando-o de casa.
Já então com 60 anos é sujeita a uma operação, após lhe ter sido detetada uma doença fortíssima que lhe ataca o coração. Ainda não está refeita disso e eis que outros primos varridos da cabeça, invadem a sua casa e não é sem o auxílio de outros familiares, inimigos daqueles bem entendido, que se consegue libertar daquela invasão, a que se sucede outra e finalmente ainda outra. Consegue restabelecer-se.
Vai para os 80 anos quando vê os seus netos envolvidos em lutas que ela julga serem simples birras, mas depressa repara que, sem escrúpulos, uns abatem outros, roubando-lhes a vida.
Fica desgostosa, mas lá vê um dos netos tomar conta da situação, enquanto os descendentes daquelas viagens que fez em nova, reclamam o seu destino procurando rasgar os laços até então estreitos. Estes conseguem, de novo com muito sangue o que querem, sempre contra a vontade do neto que sobressaíra e que entretanto tomara conta da casa.
Quando já depois dos 83 anos, acorda com sons de alegria julga que está de novo jovem e se apressa para também festejar.
Mas já é tarde, pouco depois, metem-na num hospício, onde estão todos os restantes familiares mais íntimos, uns com estatuto de vedetas outros de pedintes. Ela que tanto pedira para ir para lá, fica desiludida.
Tem 87 anos, pelo prazo parece ser o seu fim.
Maldita vida esta, na qual não se consegue ter esperança…
De quem estamos a falar?
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MFAleixo – Outubro 2014
Vida atribulada, a dessa senhora! Os filhos recordaram-na e amaram-na, os netos suportaram-na, embora constrangidos, ah!, mas parece que os netos a rejeitam. Sinais dos tempos…
Olá RR,
Boa noite
Em breve verás que há um neto que a aguenta quase 50 anos…
Um abraço do mfaleixo