Uma estória histórica de História
O curso caminhava para o fim, a tropa estava logo a seguir e era preciso ultrapassar o obstáculo da História.
O Professor era um homem volumoso, vaidoso q.b., com pretensões laterais de dissimular a calvície, muito conhecedor da matéria, falava de forma compassada, de voz muito colocada e era um pouco “gozão”.
Para ele tudo era História, para mim era um cadeirão que me fazia esbarrar.
Naquela altura já tivera uma desistência no ano anterior, por achar que não tinha grande interesse o conhecimento sobre o passado, hoje reconheço, que quem não conhece bem o passado, nunca entenderá o futuro.
Neste segundo ano da mesma matéria, não fora alem do mínimo 9-10-10 (em 60) mas uma condição me preocupava: a ida à oral.
Falou abertamente comigo o que estranhei (mas enfim eu já era um homenzinho), dizendo que me deixaria passar, fosse qual fosse a minha escolha do tema para a oral, mas avisou logo que por mais brilhante que me apresentasse não esperasse mais do que o 10, arrumou o assunto dizendo que do trio expectável de examinadores, seria ele a interrogar-me.
Tinha menos de 15 dias para escolher um tema a preceito, empiná-lo convenientemente e rezar para que tudo corresse bem.
No dia da oral às 20 horas, nó no estomago e começam os exames.
Eu era o 6º, segundo a distribuição de lugares na sala havendo mais uma dezena de alunos depois de mim.
O citado professor era o presidente do júri e assim lhe coube o 1º exame. Comecei a fazer contas e fiquei assustado ao perceber que na rotação de examinadores eu não calharia com ele. Suores frios pelo corpo acima.
Chega a minha vez e o citado professor pede ao colega para ser ele a examinar. Dirige-se-me naquela voz histriónica, dizendo que, em vez de perguntas avulsas sobre diversas matérias ia variar, deixando-me à escolha de um tema para dissertar.
Fez-se um bruaá na sala logo reprimido pelo excelso júri.
O pobre do Aleixo mal conseguiu balbuciar que iria falar da Revolução Francesa.
Larguíssimo sorriso dele, mostrando que estava à espera de um estampanço total: – Mas sim senhor, vamos lá ver o que o senhor Aleixo, nos pode ensinar sobre o assunto – concluiu.
Comecei a acreditar que a palavra do homem era para cumprir, fizesse eu a minha parte…
Dá-se um autêntico clique na minha cabeça e começo a desenrolar tudo o que as cerca de 30 páginas do livro de estudo me tinham ensinado, acrescidas de mais informação, que na altura alguém me emprestou.
O júri estava estupefacto e eu também, aquele chorrilho de informação saiu de uma vez pela minha boca, ele nem teve de fazer mais perguntas.
Só me lembro de ter sido interrompido pelo próprio examinador, dizendo que estava satisfeito e podia retirar-me.
Veio-me à memória a cena do esternocleidomastóideo do saudoso Vasco Santana…
Cada aluno que concluía o exame saia de imediato da sala.
Os seguintes foram saindo e fazendo comentários de diversa ordem, mas todos sobre a minha prova e que eu teria no mínimo 18 ou talvez mais, era a opinião geral
A pauta com as notas só saíram já passava das 23 horas e o pessoal estava sem comer a tentar sossegar das suas dúvidas.
Perante a admiração geral o meu nome tinha à frente: 10 – Aprovado.
Fui para casa descansar e ainda hoje por muito respeito que tenha pelas alterações que a Revolução Francesa tenha trazido à Europa, não esqueço os pontos altos desde a morte de Luís LVI, até Napoleão ter recebido a governação do País. Foram atrocidades demais, acrescidas ainda com as infligidas posteriormente por Napoleão, na sua ansia de dominar o mundo.
Mas isto já não conta para a minha “estória”, com mais de 50 anos…
MFAleixo – 10/Junho/2014
Sempre agradável ler as tuas histórias de vida.
Obrigado.
Abraço Torrense
do
mfaleixo