Violência Doméstica

violencia-domestica-300x200Sei que este assunto que anda agora em todos os principais títulos dos jornais de papel, abre os noticiários da TV e com as novas tecnologias é espalhado nas redes sociais, não é novo entre os humanos e a sua relação com o amor e a posse de outro ser humano.

Falo evidentemente, dos cada vez mais casos de homicídio, perpetrados principalmente por homens, em relação ás suas namoradas esposas, amantes e até filhas ou filhos.

Afinal o que se passa na cabeça destas pessoas para, que o que parece ser um simples terminar de uma relação amorosa os leve a praticar atos de extrema violência contra o objeto do seu “imenso amor”?

Será a questão simples? ou seja será somente porque não toleram a ideia de rejeição por parte de uma pessoa que consideram inferior ou de serem trocados por outro companheiro da amada?

Prevalece aqui a tão famosa máxima que ainda se perpétua a de “macho latino” que lava a sua honra com sangue?.
Acredito que em muitos casos assim seja o que por si só já é vergonhoso e incompreensível nos dias de hoje.

Mas depois, há muitos outros casos, em que levaram mais longe a sua loucura e por arrasto, alegando razões a priori delirantes mataram os próprios filhos, sangue do seu sangue alegando como motivo, poupar-lhes o sofrimento que viriam a ter pela falta da mãe, como pelo ato tresloucado do pai.

É incrível o número de mulheres que, durante anos, confinadas a uma vida, em que se anularam, para satisfazer os mais ínfimos desejos do senhor da casa, armado em “galo de capoeira”, e que para conseguirem sair deste tipo de vida, tiveram de fugir do seu lar, deixando para trás objetos, que guardaram ao longo de uma vida e lhe recordavam momentos felizes e os próprios filhos por perceberem que a sua infelicidade sob o jugo de um companheiro abusador, pouco tolerante, autoritário, faria das suas vidas em comum, um autentico inferno, deixando marcas traumáticas em cada um dos elementos familiares.

Há mulheres, que são sistematicamente violadas na sua condição de um ser livre, com personalidade própria, através de palavras agressivas, tentativas de as rebaixar em relação à sua inteligência, ao seu corpo e à sua maneira de ser, chegando ao extremo de serem espancadas, somente porque o companheiro teve um mau dia no trabalho ou o clube de futebol da sua paixão perdeu um jogo.

Se não forem estes os motivos, para o homem que não respeita a companheira, qualquer pequeno motivo serve, desde ele pensar que outro homem lhes lança um olhar mais demorado “a culpa é dela porque vestiu de maneira imprópria ou que teve algum gesto atrevido com esse propósito”, ou o jantar não estar pronto á hora aprazada ou ter pouco ou muito sal, a casa não estar devidamente arrumada, a roupa passada a ferro, os miúdos não terem educação e fazerem barulho, quando eles estão refastelados a assistirem ao seu programa favorito na TV e mil e tantos pormenores de somenos importância, que os leva a atos de extrema violência, esquecendo-se que foi por aquela pessoa, com aquela personalidade que se apaixonaram e decidiram casar e formar família.

Quando, cansada de uma vida, em que todos os sonhos e ilusões se perderam, tentando sempre através de longas conversações depois de mais uma discussão, ou um novo estalo e que mais uma vez perdoaram, por amor, fazer entender ao seu companheiro a sua insatisfação e repúdio em relação á sua atitude e depois de muitas juras da parte dele, prometendo mudar e nunca mais usar de violência física, chegam à conclusão que não vale a pena continuar a acreditar (e elas demoram anos a perder a ilusão e a perdoar) só lhes resta a fuga.

Conheço vários tipos de situações, que foram a porta de saída para esta vida de inferno, algumas tomaram a decisão de morrerem para o mundo social enquanto os filhos cresciam, numa espera angustiante, para quando os vissem fora do ninho e suficientemente bem encaminhados na vida, poderem então começar a viver uma vida mais de acordo com os seus desejos e sem o espetro da violência diária no seu quotidiano, algumas conseguiram, outras enquanto aguardavam foram mortas num qualquer dia de mais violência.

Outras mulheres, que sem carreira profissional, dificilmente conseguiriam sobreviver sem um apoio monetário, entregaram-se a outro homem, que sabendo da sua situação, se agradaram delas e lhes prometeram desafogo financeiro para se manterem, em troca de favores sexuais esporádicos, visto a maioria destes homens serem casados ou comprometidos, o que elas aceitam, mesmo que este estilo de vida vá contra todos os sonhos que tiveram em tempos de menina e moça.

Outras recorrem a associações incógnitas, pedindo ajuda e são escondidas noutra cidade onde, com a ajuda de profissionais na área da saúde mental, tentando tratar as feridas da alma e depois as ensinam e encaminham para profissões rentáveis, tentando que elas consigam um dia restabelecer a mente e sustentarem-se a elas próprias e aos filhos, mas saliento e é a minha opinião que aqui o sucesso é muito baixo, primeiro porque elas recorrem pouco a este tipo de ajuda e também é minha convicção, que as próprias associações, não estão preparadas para tantos e tão diversos casos, que se apresentam cada vez em maior número.

O que me aflige mesmo é o martírio em que estas mulheres vivem durante décadas, trazendo-lhes a maior parte das vezes doenças mentais quase incapacitantes, ao ponto de ser difícil elas reconquistarem o amor-próprio, a autoestima e o respeito por elas mesmas, deixando-as sentir que nada são, para nada servem, levando a um sentimento de culpa, nem elas sabem de quê, como se tudo o que lhes foi dito e repetido durante anos de violência lhes tivesse entranhado no ADN e nunca mais o consigam tirar.

Em nome do amor que estes homens dizem sentir em demasia e elas acreditam, são espancadas e violadas no seu corpo e mente, são anuladas na sua essência, ficam reduzidas à condição de escravas e ao fim de anos duvidam se não serão elas o monstro que eles lhes fizeram acreditar serem.

O que faz com que estes homens tenham este tipo de atitudes, perante um ser que juraram amar, respeitar na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, serem mais do que marido e mulher, companheiros na estrada de uma vida em comum com os filhos que ambos desejaram, num sonho partilhado a dois e que rapidamente e às vezes ainda em tempo de conhecimento mútuo, se revelam num pesadelo de injúrias, falta de confiança, ciúmes sem propósito e num volte-face as queiram tornar em simples objetos manejáveis à sua medida, não aceitando acima de tudo que o amor que estas mulheres sentiram poder ter acabado, por variadíssimas razões, que eles não encaixam, tornando-se daí para a frente predadores em caça da presa mais fácil.

Quando se dão conta que a mulher escolheu outro tipo de vida, seja sozinha, com os filhos ou em conjunto com outro homem, começam a urdir planos de vingança, aqui normalmente entra a velha máxima “não és minha, não és para mais ninguém” e perseguem-nas através de mensagens, telefonemas, emboscadas no meio da rua ou no local de trabalho e na maior parte dos casos, quando falham as suas tentativas de que a SUA mulher volte ao redil, onde vivia sem viver, as matam sem apelo nem agravo, possuídos por uma loucura de posse inadmissível e incompreensível… e chamam a isto amor.

accleme

Designer Gráfico

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