Fez-se História!
A Reunião de Apresentação da Associação Portuguesa de Xávega realizou-se no passado dia 20, no Grupo de Amigos da Costa da Caparica, contando com a presença dos responsáveis máximos dos dois sindicatos, a Câmara Municipal de Almada e a de Mira, a nossa Junta de Freguesia, a APX e, naturalmente, a Gandaia.
Após uma brevíssima introdução feita pelo Presidente da Gandaia, Sr. Joaquim Tomás, e de outra breve introdução feita pelo Presidente da Junta de Freguesia, Eng. António Neves, entrou-se diretamente no motivo da reunião com a apresentção do Sr. José Manuel Vieira, Presidente da Associação Portuguesa de Xávega, que demonstrou a necessidade de união entre as companhas de Arte-Xávega, até porque se está a presenciar a um movimento de expansão dos grandes armadores que desejam dizimar a pequena pesca. Abordando a questão do peixe juvenil – a guerra dos jaquinzinhos – (ver artigo anterior do Notícias) com a proibição de pesca destes peixes, ao mesmo tempo que se permitia a sua importação e venda, nomeadamente vindo de Espanha. Ligado ainda a este tema, abordando o problema do peixe que tem de ser deitado fora por razões legais – as rejeições – demonstrou que a Arte-xávega apresentava a menor quota de rejeições: 12%. Ainda na questão ambiental, chamando desde logo a atenção para o fato das companhas de Arte-Xávega trabalharem sempre na mesma área e que, no seu conjunto, toda a Arte-Xávega nacional usava uma percentagem mínima (2%) dos fundos e, ainda por cima, sempre o mesmo, fornecendo o exemplo de Mira, em que todas as companhas, no seu conjunto, pescavam numa faixa de 2 Km, sempre os mesmos ao longo dos anos. Apelou à união, apresentando exemplos da desigualdade entre a Arte-Xávega e os grandes armadores, e também com as autoridades, apresentando exemplos de prepotência e até desonestidade ocorridos não só em Mira mas em toda a faixa litoral. Se não houver união, a desproporção entre a força daqueles interesses e a de uma companha é desmesurada.
A palavra foi de imediato passada para os presentes, desde logo o jovem Lídio Galinho, que se queixou da falta de divulgação da iniciativa, mas sublinhando a necessidade de apoio e apelo à resolução dos problemas próprios da faina, o tamanho do peixe e outras questões. Mário Pinto tomou também a palavra para apresentar uma ideia relativamente divergente, a de criar
uma associação só da Costa da Caparica, chamando a atenção para a necessidade de incluir a experiência de Lídio Galinho (pai), ausente da reunião. Referiu ainda o longo e valioso trabalho do PCP nesta área, nomeadamente no Parlamento Europeu (que o Notícias já apresentara em artigo publicado anteriormente).
O Coordenador Geral do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Sul, Sr. Jorge Amorim, renovou o apelo à união dos pescadores, sublinhou a forma como a tendência para apresentar múltiplos e longos cadernos reivindicativos retirava força nas mesas de negociação, tornando fácil abortar a discussão, ficando pelos inúmeros detalhes, evitando a abordagem dos grandes problemas, comuns a todos. Este dirigente destacou 3 destes grandes problemas: A questão do primeiro lance cego e a comercialização do seu resultado, a questão da capacidade dos motores se relacionar com a segurança dos pescadores, antes de tudo o resto e, a questão dos combustíveis.
Também Joaquim Piló, Presidente do Sindicato Livre das Pescas, apelou à união e reforçou a necessidade de defender a Arte-Xávega, apresentando múltiplos aspetos do trabalho já realizado, mas também as dificuldades presentes e a necessidade de estabelecer plataformas de luta perante a ameaça real de extinção.
Falou também o Dr. Miguel Grego, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Mira, explicando que o Presidente, Dr. João Reigota tinha estado presente no almoço oferecido pela Junta de Freguesia, mas que teve de deslocar a Lisboa para tratar de assuntos inadiáveis da municipalidade. Apresentou depois vários aspetos da sua experiência de trabalho com a comunidade de pescadores do seu concelho, contou à assistência a forma como as companhas desde Espinho até Vieira de Leiria se uniram para criar a APX, pressionadas pela difícil situação atual e propondo a geminação das Câmaras Municipais com companhas de Arte-Xávega. A sua intervenção, apelando ao supra-partidarismo, à transversalidade que a Arte-Xávega representa nas comunidades onde se desenvolve e, realçando a necessidade de ouvir os pescadores, mereceu um enorme aplauso.
O debate prosseguiu com diversas intervenções, incluindo a de um pescador da Aldeia do Meco, Jorge Camarão Jerónimo, que informou existirem 5 companhas em atividade na Aldeia do Meco, no Concelho de Sesimbra, chamando a atenção para as especificidades próprias de cada local e fornecendo exemplos concretos das diferenças entre as formas de pesca no Meco e aquelas que praticamos aqui na Costa, ambas também diferentes das de Mira.
A sessão aproximava-se do seu termo, a sua realização no GACC, como foi explicado, deveu-se à intenção desta se realizar junto ao Bairro dos Pescadores, tendo sido graciosamente cedida pela direção daquela associação, mas tendo de dar lugar às atividades que aí se realizariam às 18 horas.
O Dr. António Matos, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Almada, encerrou a sessão, congratulando a Gandaia pela iniciativa, referindo a posição da Câmara de apoio à comunidade de pescadores, sublinhando a necessidade de união e ainda a abertura da Cãmara para os projetos que se abordaram, prometendo apreciar a proposta de geminação, mas também realçando a importância da cultura e da possibilidade de conjugar a Arte-Xávega com a oferta turística.
Presentes na reunião, estavam diversos responsáveis dos partidos políticos da nossa freguesia que, sem terem tomado da palavra, seguiram com interesse o debate.
Pela primeira vez na história, a Costa da Caparica é parte integrante da dinâmica nacional da Arte-Xávega e, afortunadamente, com a participação da Aldeia do Meco, estender essa dinâmica a esta nossa longa praia, da Trafaria ao Cabo Espichel, fortalecendo com a sua presença (18 companhas, 13 da Costa e 5 do Meco) e permitindo a consolidação de uma realidade com uma envergadura nacional, habilitando, não só a APX, mas todas as forças dinâmicas nesta área, a contarem com esta força, com esta massa crítica, na defesa e promoção da Arte-Xávega, sendo, assim, uma poderosa chamada de atenção a todos os responsáveis.
Também pela primeira vez na história, a Arte-Xávega começa a deixar de ser um conjunto de pontos isolados entre si, divididos nas suas ideossincrasias, para se apresentar como uma frente muito alargada, que apesar das suas diferenças, reforça as suas semelhanças. Também se fez história ao alargar a questão da Arte-Xávega a outros setores que não exclusivamente o pescado, realçando a importância social, cultural e histórica da Arte-Xávega.
Apesar de se ter realmente feito história, nada ficou propriamente feito. Trata-se de um primeiro passo e tudo depende da capacidade de união, primeiro dos pescadores, mas também de múltiplos parceiros, não relacionados com a pesca, mas que, no campo da cultura, da investigação, do desporto, do turismo, etc. podem constituir poderosos aliados para a defesa e promoção da Arte-Xávega, nomeadamente na constituição de uma ampla plataforma que constitua uma candidatura a património cultural. Resumindo: deu-se um primeiro passo importantíssimo, mas muito há a fazer.
Foi uma pena de 18 Artes Xavegas só estar presente 4 da costa da caparica 1 do meco e denhuma da fonte da telha.Acho que deveriam antes de promover estas reuniões informarem -se melhor com as pessoas intendidas e experientes ,e não se esquecerem das pessoas que tratam dos interesses dos Pescadores da costa da caparica,com foi frizado pelo Mario Pinto.
Como foi explicado na reunião, colocaram-se cartazes e distribuiram-se panfletos e publicou-se aqui no Notícias muito material, incluindo as notícias da reunião, estatutos da APX, etc. Não me parece justo criticar a Gandaia por não fazer mais, quando fez o que ninguém mais fez. Posso garantir que ninguém foi esquecido, de resto, ao contrário do que é costume: Falámos com todos os sindicatos, todos os partidos, todas as autoridades autárquicas. Mas sejamos claros, se essas pessoas entendidas e experientes sabiam da reunião, porque não falaram com os outros? Se na Aldeia do Meco se soube, como é que não se soube aqui? Finalmente, a Gandaia não tem qualquer projeto de representação ou organização dos pescadores, já existem sindicatos e associações, que, de resto foram convidadas e estiveram presentes.