Muito Mais do que Surf
São muitos os que já passaram pela Caparica. O surf domina, mas pode-se tentar o skate, o windsurf, Kayaksurf ou o paddle surf
Surf, muito surf, skate, windsurf, paddle surf, bodyboard… Para qualquer lado que se olhe entre a praia do Paraíso e do Dragão Vermelho, na Costa de Caparica, é ver todo o tipo de desportos, de aventura para uns, radicais para outros. Independentemente de como se classificam estas modalidades, desde quinta-feira que o Caparica Primavera Surf Fest é o ponto de encontro de quem procura um ambiente festivo, que junta o deporto à música. Para muitos jovens está a ser a oportunidade de ter umas férias da Páscoa diferentes, ainda mais com o sol a dar uma grande ajuda. “No ano passado passei as férias em casa e agora estou a aproveitar esta oportunidade.” João Pacheco é um dos muitos exemplos de adolescentes que aproveitaram as competições do Desporto Escolar, que também fizeram parte do programa nos primeiros dias, para agora ficar pela Costa de Caparica e viver novas experiências, longe de casa.
João tem 16 anos e é de Portimão. Eliminado da prova de surf, quis aproveitar o skatepark. E lá estava ele, a dar algumas quedas, mas dedicado a conseguir fazer uma manobra. “No Algarve, tirando em Albufeira, as rampas não são muito boas”, contou ao DN. João não esconde a alegria por estar na Costa de Caparica e disse que ia ficar até ao fim, ou seja, até dia 15 (sábado): “Esta é uma iniciativa muito boa, gostava que houvesse uma para a minha zona.”
Ao lado das rampas está uma outra estrutura dividida entre skaters e quem prefere a bicicleta. É com grande estilo que Mariana, de 15 anos (mais uma surfista), dá voltas e voltas. Faz uma pequena pausa para contar que gosta muito do festival: “Tem um bom ambiente, conheço muita gente e eu gosto de estar com todo o tipo de pessoas. Fazem-se novas amizades.” E o “bom ambiente” é um discurso recorrente. Lucian Prodan, que andava de bicicleta, também refere o mesmo, salientando ser um bom sítio para estar com os amigos e conhecer pessoas novas. “Foi uma excelente ideia fazer este tipo de atividades para se praticar diferentes desportos e não ficar em casa a jogar PlayStation, ainda mais quando está calor.” Este moldavo de 17 anos, há quatro em Portugal, trocou por estes dias as praias da linha de Cascais pela Costa e até chegou na segunda-feira. Apesar de até se realizar uma iniciativa idêntica em Carcavelos, é a da Costa que atrai mais Lucian, que destaca ainda os concertos. Lucian está a competir em quase tudo: Desporto Escolar, Regionais e até vai para o longboard. Apaixonado pela competição? “Não gosto muito, mas somos quatro nos heats e temos as ondas só para nós. No freesurf somos vários e temos de esperar mais pelas ondas.” Uma forma diferente de ver a competição!
Mas não se pense que o Caparica Primavera Surf Festival é só para os mais novos. “No skatepark temos miúdos entre os 10 e os 12 anos, ou então os curiosos do surf que estão entre os 16/17 e depois vêm os quarentões que acompanham o filho, mas depois fazem mais do que o filho!” Tiago Matos é o responsável pela zona das rampas e garante que durante a próxima semana o ambiente vai animar ainda mais. Apanhamos este skater de 34 anos (e professor de Educação Física) a dar a mão a uma criança, um pouco nervosa antes de descer uma das rampas. Tinha caído no dia antes e a confiança não era a mesma. “Não estamos aqui enquanto treinadores, estamos a dar uma mão”, explicou. Para Tiago Matos é importante aproveitar estas iniciativas para dar oportunidades aos jovens de experimentar novos desportos e garantir que se divertem. “Só assim poderão fidelizar-se a estas modalidades.” Enquanto conversa com o DN, assiste-se a vários trambolhões. Tiago Matos sorri e diz que “a ideia principal é não se aleijarem e depois divertirem-se”.
Não há dúvida de que o skatepark é dos locais mais procurados, além do mar, claro – afinal é a génese do festival – e, para quem quiser mais apoio, haverá uma aula de manhã e outra de tarde. E lá está: é para todas as idades e gratuito, assim como as outras atividades. Só os concertos são pagos. Passamos pelo stand do windsurf. Daniel Correia está no festival em representação do Caparica Surf Center, mas fez uma pausa para experimentar uma nova modalidade. Os 27 anos dão-lhe uma perspetiva diferente da importância destas iniciativas: “Dá visibilidade à Costa de Caparica. Temos tudo o que é preciso para praticar estes desportos náuticos, mas falta dinamização. Começa-se a ver que a Costa não é só o verão e este festival é um excelente exemplo de que se pode desfrutar ainda mais da Costa.”
Desporto Escolar marcante
O ponto alto desportivo irá começar amanhã com as etapas internacionais tanto de surf, como de longboard. Porém, os primeiros dias ficaram marcados por jovens do Desporto Escolar. O campeonato de surf integrou todos os alunos do país que estão inscritos nos 12 centros de formação desportiva, de norte a sul do país. Este foi o terceiro encontro nacional e o coordenador nacional do Desporto Escolar de surf salienta como foi motivante para os participantes terem a possibilidade de usufruir das mesmas infraestruturas que serão depois utilizadas pelos surfistas das etapas do circuito de qualificação da World Surf League.
João Ferreira explicou ao DN que, além de estarem a competir, alguns dos jovens tiveram a responsabilidade de serem os juízes e até de garantirem a segurança. “Os campeonatos do Desporto Escolar são organizados pelos alunos. Os professores supervisionam e controlam as situações”, referiu. Outro lado da presença destes jovens na Costa de Caparica é a experiência social que têm. “Saem da sua terra. Alguns atravessam a Ponte sobre o Tejo pela primeira vez. Eles vivem muito fechados no mundo deles, muito agarrados ao telemóvel e isto é uma forma de tirá-los da casca, permitir que conheçam outras pessoas, outras zonas, outras culturas. Eles foram a um concerto e para muitos deles foi a primeira vez. São experiências que nunca mais esquecem”, contou.
Há 40 anos ligado ao Desporto Escolar, João Ferreira considera que houve “três anos fabulosos”, com as melhores condições para trabalhar e em que se viu investimento. No entanto, no último ano voltou-se a uma realidade bem conhecida com uma redução do investimento. No surf, o número de praticantes tem vindo a aumentar e neste momento estão inscritos no Desporto Escolar 60 grupos/equipas, com mais de 1500 jovens a praticarem a modalidade de forma regular, apoiados pelos professores responsáveis pelos grupos.
Com o sol a convidar a uma ida à praia, com tantas experiências à espera de quem queira aventurar-se e com o regresso do surf mundial à Costa de Caparica, é difícil resistir a uma passagem pela praia do Paraíso e do Dragão Vermelho.