As Pedras
“Olha para um calhau com amor, que nele encontras mil coisas imprevistas…” Assim escreveu Raul Brandão no seu livro “Os Pobres”.
É sobre esses calhaus, essas pedras que pisas na calçada, sem nelas reparares, que hoje vos vou falar. Olha melhor, observa com atenção e encontrarás algo que te surpreende. Quando gostares fotografa para guardares. São essas pedras, brancas ou com alguns laivos de outras cores, que pisas, nos passeios ou nos largos, quando caminhas, ou te arrastas como eu, que contém formatos espantosos que deves habituar-te a observar. O que seria a nossa vida sem pequenas coisas que nos dão prazer ao admirá-las? Não são só as pedrinhas da calçada, são também as nuvens, as folhas caídas quando começa o Outono, as árvores frondosas dos nossos jardins e praças, as crianças, como nós já fomos, ou os velhos como eu. Também os desprotegidos da sorte, os pobres que estendem a mão a pedir ajuda, olha-os nos olhos, fala com eles e ajuda-os porque muitos têm fome. Fome de palavras e de atenção. Viver não é só comer e dormir e criticar aqueles que não pensam como nós. Viver não é só dormir como uma pedra. Viver é sonhar e recordar o que fizemos menos correcto com a Natureza.
António José Zuzarte, Costa da Caparica, 30 de Agosto de 2020.
Muito bom, amigo.
Este é um texto que encanta e nos revela um mundo que julgamos escondido, mas que, afinal, está bem à nossa frente.
“Também os desprotegidos da sorte, os pobres que estendem a mão a pedir ajuda, olha-os nos olhos, fala com eles e ajuda-os porque muitos têm fome. Fome de palavras e de atenção.” – Esta frase mostra bem a grandeza do teu espírito. Parabéns!
Um grande abraço
Reinaldo