Aquilino e a República
“Alcança quem não cansa”, diz o ex-libris de Aquilino Ribeiro.
- Porquê comemorar a República?
- Aquilino
- O Regicídio
- A Implantação da República
Nota: Todas as citações aqui referidas provêm de uma única obra de Aquilino: Um escritor confessa-se, publicada postumamente em 1974
Antes de mais, retomo o que sempre defendemos na Gandaia sobre a importância da celebração da implantação da República em Portugal, do dia 5 (em Almada a 4) de outubro de 1910. Faz hoje 113 anos.
Para compreender a importância desta alteração profundíssima, é preciso ter em conta a situação política da monarquia, em decadência acelerada desde o ultimato britânico, mas sobretudo considerando a situação do país, pobre, atrasado, deficiente na educação – que fazia dos seminários a alternativa para quem não era rico – uma confluência de fatores que justificava, como refere Aquilino, que:
“A vaga republicana e de ideias novas alastrava impetuosamente de Norte a Sul do país” P.92
Mas o mais importante, na minha modesta opinião, é a coragem coletiva para deixar de confiar numa família, real, ou num conjunto de famílias, nobres, os tais de sangue azul, e, muito importante, não esqueçamos, a Igreja, à volta dos quais se organizava um enxame de interesses e representações políticas cada vez mais distanciada da vida das pessoas.
Era uma rutura com 700 anos de história, uma mudança telúrica na mundividência – mais do que política. Na verdade, não foi só o regime que mudou no dia 5 de outubro, foi o mundo, tal como os portugueses o percebiam. E que coragem para o fazer!
Para regressar a Aquilino, que explicação oferece para esta sede de mudança? Diz ele, “Imagino que fosse por uma predisposição ao sonho” P.107
Creio que este “sonho” é algo de fundamental, quer para Aquilino, quer para a República. Este sonho é a ideia de que a realidade pode ser mudada. A ideia de que podemos criar uma nova realidade.
Acrescente-se que esta é também a ideia profundamente transformadora, de que essa realidade é um bem coletivo de toda a comunidade e não um exclusivo da realeza ou do clero, do “sangue azul” ou dinheiro suficiente para comprar títulos de nobreza, como era costume. Como descrevia Aquilino:
“Em verdade o Português nunca aprendeu outra coisa que não fosse rezar. Nunca aprendeu a pensar, nem lhe consentiriam pensar livremente. Jamais lhe cultivaram esta faculdade perigosa, o espírito, no que tem de original e altivo. Tanto a igreja como a Realeza quiseram-no sempre carneiro e nutrindo-se no prado sujo das ideias feitas. À retaguarda, A CENSURA E O Santo Ofício tinham sido os instrumentos perfeitos deste recalcamento e repressão.” P. 42
Naturalmente, esse espírito de confiança na construção do “novo” futuro, de liberdade e autonomia, não deixou de ser combatido ferozmente pelo Estado Novo…
Quem é Aquilino?
Aquilino Ribeiro nasce em 1885, no Carregal de Tabosa, concelho de Sernancelhe, Viseu, em 13 de setembro, filho natural (o último de quatro) do padre Joaquim Francisco Ribeiro e da camponesa Mariana do Rosário Gomes.
Em 1895, já a viver no concelho de Moimenta da Beira, realizou o exame de instrução primária e entrou no Colégio de Nossa Senhora da Lapa. Em 1900 entrou no Colégio de Lamego e, a seguir, foi mandado para o Seminário de Beja — para onde iam os ordenandos mais recalcitrantes, dirá o escritor, nas suas memórias — obedecendo a um desejo da sua mãe, que queria fazê-lo sacerdote.
Aquilino explicita claramente as razões a carreira eclesiástica ser apetecível:
“O padre, que chegava à aldeia com duas camisas e o Breviário debaixo do braço, acabava pequeno proprietário e um dos 40 maiores da comarca.” P. 30
Aquilino seria expulso do Seminário em 1904, depois de ter dado uma réplica cortante a uma acusação do padre Manuel Ançã, um dos diretores da instituição, daí de regresso a Soutelo, a casa materna, de onde saiu dois anos passados rumo a Lisboa.
Tal como descreve, todo o meio intelectual português, não só o de Lisboa, estava contra a monarquia.
“Entretanto a tormenta revolucionária condensava-se sobre a capital e não havia ninguém que se furtasse ao seu fluido magnético. Eu não era dos menos possessos e dos de pé alceiro.” P. 132.
Começava a sua conspiração contra a monarquia liberal desvirtuada pelos governos autoritários de João Franco, que conseguiu gerar um ódio quase unânime.
Em 1906 começa a colaborar no jornal republicano A Vanguarda. Em 1907, em parceria com José Ferreira da Silva, escreve A Filha do Jardineiro, obra de ficção de propaganda republicana e de crítica às figuras do regime. Entra a seguir para a Loja Montanha do GOL. É também convidado para a Carbonária, muito ligada à Maçonaria, e obrigatoriamente, como condição de adesão, com armas.
Recorde-se que é nas eleições de 1906 que vence o Partido Regenerador Liberal, de João Franco, que convence o Rei a suspender a Carta Constitucional em 1907, instaurando uma ditadura com apoio Real. É também em 1906 que começam os “adiantamentos” de dinheiro da Fazenda” para reforçar o orçamento Real, que vai gerar enorme reação.
Sobre a Carbonárias, escreve Aquilino:
“A Carbonária era a estruturação secreta da revolução, afinal tão secreta, que eu nessa noite fiquei a saber quem constituía a Alta Venda”. P. 165.
O Regicídio
Descreve com grande detalhe uma reunião preparatória, perto de Algés de Cima, na primavera de 2007, convocada por Joaquim Pinto Ramos e com a presença, entre muitos outros de Manuel Buíça.
È a partir desta reunião que se forma um grupo de revolucionários armados, prontos para uma intervenção que ainda não se sabe ao certo. Pode ser um atentado a todo o conselho de ministros reunido – como proposto por Buíça – ou outra…
No dia 9 de novembro de 1907, Luz de Almeida, da Alta Venda da Carbonária e Venerável da Loja Montanha, convence Aquilino a guardar no seu quarto “a metralha” que estava no consultório do Dr. Gonçalves Lopes. O quarto, na Rua do Carrião, seria guarida apenas “por dois ou três dias”.
É nesse seu quarto que o Dr. Gonçalves Lopes e Belmonte de Lemos começam a fabricar bombas de meio “nada mais primitivo e precário”, classificando o bombista de “homem imprudente e estabanado”.
Deu-se a explosão e Aquilino, surpreso e atordoado não foge. Tenta esconder-se num outro quarto mas é apanhado pela polícia.
Foi levado famoso ao juíz Veiga, onde soube da morte dos dois bombistas, sendo depois levado à morgue para os identificar. Depois foi levado para a esquadra do Caminho Novo, ao Quelhas onde ficou preso.
Descreve o autor, com minúcia e arte os seus dias de prisão, bem como a sua fuga, nas páginas 187 a 249 desta sua obra. A fuga, depois de temperada com uma “litrada e meia-desfeita”, termina num quarto bem em frente à Boa Hora. Esteve preso até ao dia 12 de janeiro de 1908, data em que se evade da prisão, refugiando-se numa casa de Meira e Sousa, na Rua Nova do Almada, em frente do Tribunal da Boa Hora. Durante a clandestinidade em Lisboa mantém os contactos com os seus amigos conspiradores.
É à janela das águas furtadas do seu refúgio que assiste ao reboliço causado pelo Regicídio.
Segundo Aquilino, o visado no atentado seria João Franco e não o rei. É Alfredo Luís da Costa que o visita e põe a par dos preparativos, dos envolvidos e de todos os detalhes do que vem a ser o Regicídio. É Meira e Sousa quem lhe veio contar o que acabou por suceder. (P. 259-267).
Aquilino descreve o Regicídio perpetrado por Alfredo Costa e Manuel Buíça por aquilo que lhe contaram e o que leu.
A 1 de junho de 2008 apanha o Sud-express e foge para Paris.
Mas como ficaram os acontecimentos do Regicídio registados na História?
O Rei, a Rainha e o Príncipe Real encontravam-se então em Vila Viçosa, no Alentejo, onde costumavam passar uma temporada de caça no inverno. O infante D. Manuel havia regressado dias antes, por causa dos seus estudos como aspirante na marinha. D. Carlos a antecipa o regresso a Lisboa, tomando o comboio, na estação de Vila Viçosa, na manhã do dia 1 de Fevereiro. Durante o caminho o comboio sofre um ligeiro descarrilamento junto ao nó ferroviário de Casa Branca. Isto provocou um atraso de quase uma hora.
A comitiva régia chegou ao Barreiro ao final da tarde, onde tomou o vapor “D. Luís”, com destino ao Terreiro do Paço, em Lisboa, onde desembarcaram, na Estação Fluvial Sul e Sueste, por volta das 5 horas da tarde, onde eram esperados por vários membros do governo, incluindo João Franco, além dos infantes D. Manuel e D. Afonso, o irmão do rei.
Apesar do clima de grande tensão, o monarca optou por seguir em carruagem aberta, envergando o uniforme de Generalíssimo, para demonstrar normalidade. A escolta resumia-se aos batedores protocolares e a um oficial a cavalo, Francisco Figueira Freire, ao lado da carruagem do rei.
Há pouca gente no Terreiro do Paço. Quando a carruagem circulava junto ao lado ocidental da praça ouve-se um tiro e desencadeia-se o tiroteio. Um homem de barbas, passada a carruagem, dirige-se para o meio da rua, leva à cara a carabina que tinha escondida sob a sua capa, põe o joelho no chão e faz pontaria. O tiro atravessou o pescoço do Rei, matando-o imediatamente. Começa a fuzilaria: outros atiradores, em diversos pontos da praça, atiram sobre a carruagem, que fica crivada de balas.
Os populares desatam a correr em pânico. O condutor, Bento Caparica, é atingido numa mão. Com uma precisão e um sangue frio mortais, o primeiro atirador, mais tarde identificado como Manuel Buíça, professor primário, de 32 anos, expulso do Exército, volta a disparar. O seu segundo tiro vara o ombro do rei. Aproveitando isto, surge a correr de debaixo das arcadas um segundo regicida, Alfredo Costa, 28 anos, empregado do comércio e editor de obras de escândalo, que pondo o pé sobre o estribo da carruagem, se ergue à altura dos passageiros e dispara sobre o rei já tombado.
A rainha, já de pé, fustiga-o com a única arma de que dispunha: um ramo de flores, gritando “Infames! Infames!” O criminoso volta-se para o príncipe D. Luís Filipe, que se levanta e saca do revólver do bolso do sobretudo, mas é atingido no peito. A bala, de pequeno calibre, não penetra o esterno (segundo outros relatos, atravessa-lhe um pulmão, mas não era uma ferida mortal) e o Príncipe, sem hesitar, aproveitando porventura a distração fornecida pela atuação inesperada da rainha sua mãe, desfecha quatro tiros rápidos sobre o atacante, que tomba da carruagem. Mas ao levantar-se D. Luís Filipe fica na linha de tiro e o assassino da carabina atira a matar: uma bala de grosso calibre atinge-o na face esquerda, saindo pela nuca.
D.ª Amélia permanece de pé, gritando por ajuda. Buíça volta a fazer pontaria (sobre o infante? sobre a rainha?) mas é impedido de disparar sobre a carruagem pela intervenção de Henrique da Silva Valente, simples soldado de Infantaria 12, que passava no local, e que se lança sobre ele de mãos nuas. Na breve luta que se segue o soldado é atingido numa perna, mas a sua intervenção é providencial. Tendo voltado o seu cavalo, o oficial Francisco Figueira carrega primeiro sobre o Costa, que ferido pelo príncipe é atingido por um golpe de sabre e preso pela polícia, e de seguida dirige-se a Buíça. Este ainda o consegue atingir numa perna com a sua última bala e tenta fugir, mas Figueira alcança-o e imobiliza-o com uma estocada.
Com os regicidas imobilizados, o zelo excessivo dos polícias presentes levou a que acabassem abatidos no local, o que dificultou as posteriores investigações sobre o atentado. A família real acusa João Franco como responsável pela tragédia.
Esse descarrilamento acaba por ser fatal. Em vez de João Franco, é D. Carlos e o seu primogénito que morrem. Um acontecimento fortuito e inesperado, independente da vontade dos intervenientes, altera a sequencia de factos que fizeram história.
Só muitos anos depois é erigida uma estátua ao monarca, em Cascais, inaugurada por Cavaco Silva. Quem mais poderia ser?
No prefácio deste livro, escrito por Mário Soares, revela uma conversa com Aquilino em que este lhe revela que o pai, João Soares, também padre e carbonário, estaria envolvido. Quer Aquilino Ribeiro quer Mário Soares eram filhos de padres.
Ainda hoje há quem se interrogue se no dia do regicídio Aquilino terá sido a “terceira carabina do Terreiro do Paço”, para usar uma expressão de Batista Bastos.
Muitos anos depois, o processo de trasladação para o Panteão Nacional, a 19 de julho de 2007, levantou grande polémica junto das hostes monárquicas (e não só).
Raul Brandão, nas suas Memórias sublinha a originalidade do Regicídio: “É a primeira vez que um rei portuguez morre ás mãos do seu povo. Até agora acabavam às mãos das camarilhas”.
No seu diário de 21 de Maio de 1908, escrito três meses depois do assassinato de seu pai, D. Carlos, e de D. Luís Filipe, seu irmão, D. Manuel II nunca responsabiliza, direta ou indiretamente, Aquilino Ribeiro por aquele “horroroso atentado” (Mário Robalo, Jornal Expresso de 2 de fevereiro 2008, 1º caderno, página 24 ).
José Gomes Ferreira sobre Aquilino: “o Mestre que sabe mentir a verdade”.
A Implantação da República
Como vimos, Aquilino Ribeiro está em Paris quando se dá a Revolução de 5 de Outubro de 1910.
Conta-nos ele que o primeiro jornal a dar a notícia foi o “Matin” na madrugada de dia 4. Com Serpa Pimentel foram à hospedaria onde residia Magalhães na Cité Bergére onde flutuava já a bandeira bicolor da República.
No local estavam já vários veículos da imprensa internacional, não apenas francesa, tentando obter mais informações.
Segundo Aquilino, a Gazeta de Frankfurt escrevia: O Rei D. Manuel perdeu uma magnífica ocasião de nobilitar o fim da monarquia com uma morte heroica. Os reis no exílio contam mais um figurante, mas não é um rei autêntico.
O escritor testemunha o interesse do que chama “A grande imprensa jogava ali uma partida cerrada e nervosa em torno de um acontecimento de alta sensação” P.324
No entanto confessa: “a nossa ansiedade não foi grande. Sabíamos que a monarquia estalava de decrepitude (…) a revolução que se aguentasse mais de 30 horas, teria fatalmente de vencer”.
No dia seguinte, 5 de outubro, confirmou-se o vaticínio e Portugal esteve no centro das atenções do mundo, conquistando a simpatia, pelo menos, do povo francês.
Porém, dia 6 teve início uma greve nos caminhos de ferro franceses e o foco das notícias deixou de passar por Portugal. Mas, conclui Aquilino, a bandeira bicolor continuou hasteada na Cité Bergére.
À noite do dia 4 a moral encontrava-se baixa entre as tropas monárquicas estacionadas no Rossio, devido ao perigo constante de serem bombardeadas pelas forças navais e nem as baterias de Couceiro, aí colocadas estrategicamente, traziam conforto. No quartel-general discutia-se a melhor posição para bombardear a Rotunda. Às três da manhã, Paiva Couceiro partiu com a bateria móvel, escoltado por um esquadrão da guarda municipal, e instalou-se no Jardim de Castro Guimarães, no Torel, aguardando a madrugada. Quando as forças da Rotunda começaram a disparar sobre o Rossio, revelando a sua posição, Paiva Couceiro abriu fogo provocando baixas e semeando a confusão entre os revoltosos. O bombardeamento prosseguiu com vantagem para os monárquicos, mas às oito da manhã Paiva Couceiro recebeu ordem para cessar-fogo, pois iria haver um armistício de uma hora.
Entretanto no Rossio, depois de Paiva Couceiro ter saído com a bateria, o moral das tropas monárquicas, julgando-se desamparadas, piorou ainda mais, devido às ameaças de bombardeamento por parte das forças navais. Infantaria 5 e alguns elementos de Caçadores 5 garantiram que não se oporiam ao desembarque de marinheiros. Face a esta confraternização com o inimigo, os comandantes destas formações dirigiram-se então ao quartel-general onde foram surpreendidos pela notícia do armistício.
O novo representante alemão, chegado na antevéspera, instalara-se no Hotel Avenida Palace, lugar de residência de muitos outros estrangeiros. A proximidade do edifício da zona dos combates não o poupou a estragos. Perante este perigo, o diplomata tomou a resolução de intervir. Dirigiu-se ao quartel-general e pediu ao general Gorjão Henriques um cessar-fogo que lhe permitisse evacuar os cidadãos estrangeiros. Sem comunicar ao governo, e talvez na esperança de ganhar tempo para a chegada dos reforços da província, o general acede.
O diplomata alemão, acompanhado de um ordenança com a bandeira branca, dirige-se à Rotunda para acertar o armistício com os revoltosos. Mas eis que estes, vendo a bandeira branca, julgaram que a força opositora se rendia, pelo que saem entusiasticamente das fileiras e juntam-se ao povo, que sai das ruas laterais e se junta numa grande aglomeração gritando vivas à república. Na Rotunda, Machado Santos a princípio não aceita o armistício, mas perante os protestos do diplomata acede. De seguida, e vendo o maciço apoio popular à revolta nas ruas, temerariamente dirige-se ao quartel-general, acompanhado de muitos populares (aos quais se haveriam de juntar os oficiais que abandonaram as posições na Rotunda).
Mais uma vez, um acontecimento fortuito e inesperado, independente da vontade dos combatentes, altera a sequencia de factos que fizeram história.
A situação no Rossio, com a saída dos populares à rua era muito confusa, mas já favorável aos republicanos, dado o evidente apoio popular. Machado Santos confronta o general Gorjão Henriques com o facto consumado e convida-o a manter-se no comando da divisão mas este recusa. Machado Santos entrega assim o comando ao general António Carvalhal que sabia ser republicano. Pouco depois, pelas 9 horas da manhã, era proclamada a república por José Relvas, na varanda do edifício da Câmara Municipal de Lisboa, após o que foi nomeado um Governo Provisório, presidido por membros do Partido Republicano Português, com o fito de governar a nação até que fosse aprovada uma nova Lei Fundamental.
A revolução saldou-se em algumas dezenas de baixas. O número rigoroso não é conhecido, mas sabe-se que, até ao dia 6 de outubro, tinham dado entrada na morgue 37 vítimas mortais da revolução. Vários feridos recorreram a hospitais e postos de socorros da cidade, alguns deles vindo, mais tarde, a falecer. Por exemplo, dos 78 feridos que deram entrada no Hospital de São José, 14 faleceram nos dias seguintes.
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Notas Biográficas:
Estabelecido em Paris em 1910, estuda na Faculdade de Letras da Sorbonne. Vem a Portugal após o 5 de outubro e regressa a Paris, onde conhecera a alemã Grete Tiedemann. Após uma estada na Alemanha, virá a casar com Grete. O casal regressa a Paris e, em 1914, nasce-lhes o primeiro filho, Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro. Nesse mesmo ano ainda publicará um novo livro, Jardim das Tormentas.
Em 1915 a família é obrigada a regressar a Portugal na sequência dos conflitos da Primeira Grande Guerra. Aquilino, mesmo sem ter conseguido terminar a sua licenciatura, é admitido a lecionar no ensino secundário, sendo colocado como professor no Liceu Camões, onde ficará durante três anos.
Em 1918 publica A Via Sinuosa. No ano seguinte, em 1919, entra para a Biblioteca Nacional de Portugal, a convite de Raul Proença. Convive com o chamado Grupo da Biblioteca Nacional onde pontificam Jaime Cortesão e Raul Proença. Publica Terras do Demo, e a primeira versão do seu conto “Valeroso Milagre” na Revista Atlântida (nº 32), cuja trama se passa no Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção de Tabosa, situado na sua freguesia natal, aquando das invasões francesas. É na Biblioteca Nacional que Aquilino Ribeiro é procurado por pessoas de suas relações para lhe mostrarem uma Acta do Regicídio.
Em 1921 integra a direcção da revista Seara Nova. Em 1922 publica O Malhadinhas integrado no livro Estrada de Santiago, o qual inclui também uma nova versão do “Valeroso Milagre”.
Em 1927 entra na revolta de 7 de fevereiro, em Lisboa. Exila-se em Paris. No fim do ano regressa a Portugal, clandestinamente, após falecer a primeira mulher. Em 1928 entra na revolta de Pinhel. Encarcerado no presídio de Fontelo (Viseu), evade-se e volta a Paris.
Em 1929 casa em Paris com Jerónima Dantas Machado, filha de Bernardino Machado. Do casal virá a nascer em 1930 o segundo filho, Aquilino Ribeiro Machado, que viria a ser o 60.º Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1977-1979). Em Lisboa é julgado à revelia em Tribunal Militar, e condenado.
Em 1931 vai viver para a Galiza. Em 1932 volta a Portugal clandestinamente. Em 1933 recebe o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, pelo seu livro As Três Mulheres de Sansão.
Em 1935 é eleito sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.
Em 1946 publica Aldeia, Terra, Gente e Bichos. Em 1951 publica Geografia Sentimental.
Em 1952 faz uma viagem ao Brasil onde é homenageado por escritores e artistas, na Academia Brasileira de Letras. Em 1956 é fundador e presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores.
Em 1957 publica A Casa Grande de Romarigães e, em 1958, Quando os Lobos Uivam. Neste mesmo ano é nomeado sócio efetivo da Academia das Ciências de Lisboa. Milita na candidatura de Humberto Delgado à presidência da República.
Em 1960 é proposto para o Prémio Nobel da Literatura por Francisco Vieira de Almeida, proposta subscrita por José Cardoso Pires, David Mourão-Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira, Maria Judite de Carvalho, Mário Soares, Vitorino Nemésio, Abel Manta, Alves Redol, Luísa Dacosta, Vergílio Ferreira, entre muitos outros.
Em 1962 nasce-lhe a primeira neta, Mariana, a quem dedica O Livro da Marianinha.
Em 1963 é homenageado em várias cidades do país por ocasião dos cinquenta anos de vida literária. Morre no dia 27 de maio. Nessa mesma hora, a Censura comunicava aos jornais não ser mais permitido falar das homenagens que lhe estavam a ser prestadas. É sepultado no Cemitério dos Prazeres.
Em 1974 é publicado o livro de memórias Um Escritor Confessa-se. Como escreve José Gomes Ferreira no prefácio Aquilino sabe mentir a verdade.
Em 1982, a 14 de Abril, é agraciado a título póstumo com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.[4]
Em 2007, por decisão unânime, a Assembleia da República decide homenagear a sua memória e conceder aos seus restos mortais as honras de Panteão Nacional. A cerimónia de trasladação para o Panteão Nacional ocorreu a 19 de setembro desse mesmo ano.