O Crime da Trafaria
Publicamos aqui o artigo de opinião de Eduardo Cabrita, Deputado Eleito pelo PS no Distrito de Setúbal, publicado no Setúbal na Rede (ver artigo original clicando aqui), sobre a proposta de implantação do Terminal de Contentores na Trafaria. A abordagem detse Deputado, pela abrangência e análise estratégica, merece a reflexão de todos nós.
O Crime da Trafaria
Seria difícil um Governo ser tão nefasto para uma região como o de Passos Coelho para o distrito de Setúbal. Traumatizado pelo abandono e pela visão de provincianismo arrogante que acha que a a outra banda é o subúrbio desqualificado por onde é preciso passar para ir à praia, a região de Setúbal teve nos últimos anos uma experiência de raro otimismo ao ser colocada no centro da estratégia de desenvolvimento do País.
O papel do porto de Sines como único porto intercontinental português, o Litoral Alentejano de Troia à Costa Vicentina como último grito do turismo sustentável e de excelência, a colocação no campo de tiro de Alcochete do novo aeroporto de Lisboa, a ligação ferroviária de alta velocidade à Europa via Madrid e por fim o projeto do Arco Ribeirinho Sul davam coerência ao papel da nossa região como zona de futuro da Grande Lisboa e como coração da visão de Portugal como fachada atlântica da Europa.
Na sua fúria ignorante de destruição das politicas públicas de promoção do desenvolvimento económico tudo foi suspenso, arquivado ou destruído com a maior perda de fundos europeus de sempre no abandono da ligação à rede europeia de alta velocidade. A hipocrisia ignorante atingiu o clímax com a demagógica declaração de que o modelo do Arco ribeirinho Sul não estava posto em causa apenas o modelo de gestão. Obviamente nada sucedeu para além do desvio de uns trocos para pagar as dívidas do Ministério perante um estranho silêncio complacente das autarquias do PCP.
A conversa sobre a prioridade à linha de mercadorias para Sines é um fado estafado sem financiamento nem calendário a negociar até 2020 nos termos do Orçamento europeu ainda por aprovar já que os fundos disponíveis forem irremediavelmente perdidos.
É neste quadro que o pavonear de uma grande medida de transferir os terminais de contentores do Porto de Lisboa para a Trafaria é a cereja no bolo envenenado que nos dão a comer revelando toda uma visão arrogante das politicas territoriais desta gente.
A simpatia do projeto residiria na aparente glória de reservar para Lisboa as esplanadas, os passeios ribeirinhos e os cruzeiros. Para a outra banda ficaria o suor, o trabalho portuário e a desagradável vista dos contentores. Para esta gente a cidade de duas margens ganha a dimensão ridícula de achar que a Lisboa crescida à beira-rio poderia ser um grande cenário expulsando a economia para longe da vista deste cantinho transformado num grande Parque Mayer. É obvio que quem assim pensa odeia a economia, desconhece a logística e não conhece o encanto de Barcelona ou de Antuérpia.
Mas a solução é totalmente absurda para quem cancelou tudo quanto era investimento incluindo a ligação da linha de Cascais à linha da cintura de Lisboa para passageiros e mercadorias. Um mega terminal de contentores na Trafaria è um crime ambiental e uma inutilidade económica que sairia cara e iria matar o Porto de Lisboa. Transformar em porto todo o espaço entre a Trafaria e Porto Brandão tem custos que não vi sujeitos a nenhuma análise independente como a direita antes pedia a torto e a direito. Quanto à análise custo benefício, o desastre para a competitividade de Lisboa é óbvio. Se os produtos não são para Lisboa bastam ao Sul do País os portos de Sines e Setúbal sem as limitações de que o mal-amado Porto de Lisboa padece. Se o que está em causa é transferir para a Trafaria o abastecimento marítimo da margem Norte o crime económico é de bradar aos céus . Ou se pretende inundar a Ponte 25 de Abril e Lisboa de camiões ou a história da saída dos produtos por uma linha férrea que iria por zonas hiper – ocupadas ligar ao Poceirão seguindo por Vendas Novas, Coruche, Setil até chegar ao Terminal da Bobadela ou à margem Norte é uma anedota de custos elevadíssimos.
A ignorância de Álvaro Santos pode dar para mais umas esplanadas junto ao Tejo mas é um dobre de finados para o Porto de Lisboa, um contributo para o definhar do papel de Lisboa como centro de negócios e de emprego e assenta numa repugnante visão preconceituosa sobre o papel estratégico da margem Sul do Tejo. Como disse Francisca Parreira, a voz da Trafaria, esta visão da cidade de duas margens acha que de um lado está o luxo e de outro o lixo. Queremos uma Grande Lisboa como motor da competitividade do País aberto ao Mundo e com um desenvolvimento equilibrado. O crime da Trafaria não ficará impune.
Eduardo Cabrita – 25-02-2013 16:12