Políticos: Ouvir mais para melhorar a realidade
Fui à Assembleia de Freguesia da última segunda feira dia 29 de abril. Comecei a frequentar as Assembleias porque cada vez se foi impondo com mais força a ideia de ser muito importante que os cidadãos participem na vida democrática do seu país, sendo a freguesia o orgão de maior proximidade, portanto, o primeiro passo nessa participação.
Estavam menos de 10 pessoas a assistir.
As 3 forças políticas que costumo ver representadas, PSD, PS e CDU lá tinham os seus eleitos. O CDS, como é frequente, falta.
Como não tenho nenhum partido, não irei discriminar as propostas nem os seus autores, porque o objetivo não é criticar ou elogiar nenhum em particular. Assisti à apresentação de várias moções e depois, na fase de votação, as moções que eram apresentadas por um partido, eram aprovadas por esse partido, mas chumbadas pelos outros, com a exceção de uma ou duas.
Isto até podia ser natural, partidos diferentes, opiniões diferentes. Porém, nas declarações de voto, os partidos afirmavam que até concordavam com o objetivo das moções que acabaram de chumbar, ou que concordavam com grande parte, mas que na moção, por referir isto ou aquilo, com que não concordavam, reprovavam.
Resumindo, todos estavam mais ou menos de acordo em relação ao conteúdo geral, mas por este ou aquele pormenor a moção não passava.
Não era minha intenção tomar a palavra, mas não me contive. É que do lado de cá, do lado dos cidadãos que não têm filiação partidária, que não têm ambições na administração do poder, aquela situação parecia mais do que difícil de compreender, parecia mesmo inexplicável. Ainda para mais, falando de problemas concretos que poderiam beneficiar ou prejudicar a vida de todos nós.
Parecia-me evidente que seria natural que cada partido trabalhasse o objetivo das suas moções, antes de mais, de forma a que os outros pudessem aprovar, pois o objetivo é que se façam as coisas necessárias e não o próprio ato de apresentar moções. Afirmei mesmo que me parecia natural que um partido, ao definir um objetivo político, da coisa pública, por exemplo, a oposição à construção do terminal de contentores, a mudança do sistema de recolha do lixo, ou outros quaisquer, deveria tratar de consensualizar antecipadamente com os outros a forma como pudessem chegar a acordo e prevenir realmente que se construisse o terminal, se mudassem os contentores, etc.
Deve ser por ilusões destas que não tenho qualquer futuro na política, o que, além de não ser grave, não preocupa ninguém. O problema é que esvazia de sentido o próprio sistema político – o regime – que, ainda por cima, como é sabido, é caro. Comentei mesmo para um amigo sentado ao meu lado, que com este tipo de interpretação do sistema democrático, eu, que assisti à implantação da democracia em abril de 74, iria ainda ver o seu fim. Um outro assistente comentou mesmo: “Ora, a democracia já acabou, homem.” Dá que pensar, não é?
O pior é que os nossos eleitos não acharam grande piada à intervenção, nem apreciaram o fato do cidadão ter uma opinião como esta que me parece de uma evidência gritante. Que não. Que eu era desta ou daquela facção, que estava a criticar os partidos – pelos vistos não se pode – mesmo tendo começado por dizer que os respeitava muito – e respeito – pois não tendo eu essa vocação de administrar a coisa pública, só tenho que respeitar quem a tenha. Mas esta coisa do respeito tem de ser mútua. Ou não?
Há mesmo um ponto em que as coisas deixam de fazer sentido e que, como tudo na natureza que deixa de fazer sentido, caduca, é substituido, morre. O sentido das coisas tem a ver com o cumprimento das suas funções, a sua integração em ciclos mais amplos e a isso devem a sua sustentabilidade.
A fotografia não tem nada a ver com o que acabei de referir. Foi feita por mim, mas não na noite da Assembleia. No entanto, como acho que é bonita e é um nascer de lua cá na Costa, faz a coisa parecer melhor e pronto, sempre cumpre uma função.