A Mulher das Castanhas

Castanhas 350Nome próprio Alice, Anita para quem todos os dias por ela passa e lhes retribui o sorriso num rosto bronzeado todo o ano pelo calor que se solta do assador a carvão, onde estalam com a casca acinzentada, as castanhas no inverno, e pelo calor que se solta do ar quente dos meses de verão, às voltas com a fruta colorida e madura que vende num jogo de escondidas entre ela e o cidadão fardado.

Tem 57 anos, é pequena, franzina, com uns olhos castanhos com reflexos de aceitação onde já morou o sonho e mora agora a resignação.

Aos 12 anos, na idade em que a infância ainda está presente e a adolescência  se anunciava já, o sonho de vir a ser hospedeira de bordo ou uma exímia cabeleireira, lhe enchia a mente de imagens de beleza e glamour, foi forçada a começar a trabalhar numa fábrica de fios para autpmóveis para ajudar nas despesas da casa de numerosa família e parcos recursos.

Mais tarde, fez-se costureira de alfaiate. sempre com o sonho presente na imaginação, mas cada vez mais distante na concretização,

Com 32 anos , mãe já, e responsabilidades acrescidas, veio sem o prever o despedimento que lhe matou a estabilidade conseguida e onde os sonhos de menina e moça há muito se tinham desvanecido na poeira das obrigações diárias.

Mulher determinada a não deixar que os sobressaltos a assaltassem de molde a tolher-lhe o corpo e a apatia, a roubar-lhe as ideias e em conversa com amigas surgiu a ideia de vender castanha assada pelas ruas de Outubro a Março.

O gosto pela Costa da Caparica fê-la pedir uma licença na Junta de Freguesia e foi nesta terra que decidiu ganhar o pão de cada dia numa profissão que requer ver-se exposta ao frio e à chuva no inverno, sem um teto e aconchego de quatro paredes onde se abrigar, esperando que o cheiro a castanhas quentes atraia o apetite de quem se passeia pela Rua dos Pescadores, que é o seu local de trabalho, mesmo no verão onde troca as castanhas pela fruta madura, e quando isso não é possivel procura nos restaurantes quem precise de alguma ajuda nas cozinhas fazendo as férias ou faltas de empregada regular.

Os sonhos antigos ainda se refletem nos olhos meigos, mas os traços acentuados na face, dizem o que por ela passa todos os dias, que já só habitam num recanto da mente onde estão guardadas as  memórias e os quereres.

 

accleme

Designer Gráfico

One thought on “A Mulher das Castanhas

  • 11 de Abril, 2014 at 15:20
    Permalink

    Outra vez
    Outro ser humano
    Ana Marques sempre é capaz de capturar momentos adoráveis
    pessoas adoráveis que lembram-nos para não levar presentes para concedido
    Alice´s história é nossa história
    e nos mostrar quem nós somos como você mostra ao mundo quem ela é.
    Agora sinto como a obtenção de alguns castanhas, YUM, sentem-se mesmo um prazer melhor.
    Kamel Khairalla

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