40 Anos de Liberdade
Para quem nasceu no final da década de sessenta e tendo apenas pouco mais de cinco anos à data desse importante dia de 74, pouco posso testemunhar, ainda assim porém lembro-me muito bem do salto que o meu Pai deu da cama e do alarido dessa noite lá em casa. Inconscientemente retive um sentimento de alegria sem compreender bem porquê.
Com o passar dos anos senti que o sorriso desse dia foi crescendo, a vida foi melhorando a felicidade foi florescendo.
Por meados da década de 80 havia ainda no ar um burburinho de prosperidade. As pessoas expressavam ainda satisfação e confiança no futuro.
Depois a exaltação deu lugar à aflição, pouco a pouco tudo se tornava difícil, complicado e complexo, o sorriso perdeu-se, a esperança foi esmorecendo, os rostos tornaram-se pesados, preocupados…
Hoje, passados 40 anos vivemos em liberdade à luz de um sonho americano que nos alenta a esperança mas que tem a materialidade de um possível prémio da lotaria. Na expectativa do mesmo muitos trabalhadores envolvem-se profundamente num ritmo de trabalho frenético que lhes consome muito mais do que para aquilo que são pagos, aumentando exponencialmente a produtividade sem qualquer recompensa proporcional espelhada no seu salário,
A ditadura política foi substituída por uma ditadura económica.
A democracia política conquistada tem sido inversamente proporcional à financeira, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres está a atingir níveis tais que roça já o criminoso.
O bem público ao serviço do povo está negligenciado a níveis absurdos, não há tinteiros nas esquadras nem combustível para os veículos, o nosso centro de saúde nem tinta nas paredes exteriores tem, ao mesmo tempo e escandalosamente alheios a tudo isto os nossos dirigentes rodeiam-se dos maiores luxos, onde um par de jantes de um dos seus bólides topos de gama daria para pagar alguns meses de algumas daqueles inacreditáveis pensões de sobrevivência atribuídas a quem trabalhou toda uma vida.
Apoiam-se as grandes empresas, potenciam-se os grandes investimentos sem ter em consideração o fator mais importante: a criação de postos de trabalho,
As políticas a que estão sujeitas as pequenas e médias empresas parecem ter sido encomendadas pelos grandes grupos económicos. O pequeno comércio, os pequenos produtores de alimentos tradicionais as pequenas indústrias ligadas ao setor primário estão sujeitas a regras, regulamentos e leis que asfixiam e escravizam as empresas e trabalhadores desses sectores, onde o rácio entre número de trabalhadores versus valor facturado é flagrantemente mais favorável tanto ao nível da criação de empregos como á distribuição da riqueza.
As políticas aplicadas na forma como foram privatizados sectores estratégicos como a energia as telecomunicações e outras, está ao nível da anedota do sujeito que decide vender a vaca com a desculpa de necessitar do dinheiro para comprar leite.
A alta finança consegue o impensável,
Parece absurdamente estúpido, mas aceitámos uma alteração financeira que passou a proibir um estado de pedir um empréstimo directamente ao banco central europeu, onde hoje os bancos privados recorrem comprando dinheiro á taxa de 1% para depois emprestar ao governo Português á taxa 6%, é uma taxa 500% superior!
Lá diz o povo:
– Quem engorda o porco é o olho do dono…
Hoje como em 74 é fundamental sair à rua, largar a formatação da TV e o sofá e participar ativamente no futuro da nossa sociedade, há 40 anos atrás os nossos pais iniciaram um processo que nos garantiu a possibilidades de sermos donos e senhores das nossas decisões, temo que não tenhamos compreendido bem as responsabilidades e os deveres que daí advieram, pois silenciosamente e ordenadamente estamos a novamente ser encaminhados por uma elite que agora muito inteligentemente e à luz da maior democracia anunciada nos arrasta para uma sociedade subordinada ao capital, desigual, e injusta.