4 Junho 1989
Faz este 4 de junho 25 anos. É hoje. Alguém se lembra? Um amigo lembrou-me.
Vivemos tempos cinzentos. Diferentes – oh muito diferentes – da cinzentania de Almada Negreiros. Agora é uma cinzentania interior, que por fora é só cores vibrantes multiplex, super digital altérrima definição no som, na imagem, nas fantasbulásticas estrelas de holywood, bollywood, carnaxiwood ou pero pinheirowood.
Faz hoje 25 anos que o regime chinês foi confrontado na sua Praça da Paz Celestial pelo povo, os estudantes e, muito provavelmente, as mãos invisíveis do costume. Hoje, mesmo em Portugal, o mesmo estado chinês compra EDP, REN e mais o que houver graças a uns senhores com poucos, muito poucos escrúpulos.
O massacre compensa?
Faz pensar. Mas pensar é chato, faz caspa e dá lombrigas. Caramba. Ganda chatice, diria o Jesus, não é o da cruz, mas o que inventou aquela ciência do futebol, aquela em que três jogadores fazem um quadrado. O que é uma questão de cultura, como toda a gente sabe.
E já ninguém se quer lembrar do trabalho infantil, dos operários encarcerados nas fábricas, que ardem com eles lá dentro. Nem se quer lembrar dessa face da moeda que nos faz baixar as condições dos trabalhadores daqui, em vez de subir as condições dos trabalhadores de lá.
Aqueles que aqui dizem que defendem o trabalho, defenderiam também as necessárias mudanças lá? Poderá haver uma coisa sem a outra? As justas manifestações daqui, são as manobras imperialistas de lá?
E o Tibete? E o Jinjiang e povo Uigur? E o Comité Central do Partido Comunista Chinês definir o tamanho dos gabinetes da EDP – é liberalismo, é social democracia? Recordamos que o anterior Comité Central do Partido Comunista era o orgão político central com mais multimilionários? Sim? Deveras.
Caramba, que incómodo. Não há onde me acomode. E ninguém fica bem na fotografia…
Não esquecer o que realmente importa não esquecer: data do massacre da Praça Tiananmen: 4 de junho de 1989. Uma data para envergonhar os seres humanos. Muitas declarações na altura e depois… negócio como sempre, um mercado de mais de um bilião de consumidores é irrecusável.
A globalização é isto?
Atenção à foto. Ah! Muita, mas mesmo muita atenção à foto. é o famoso homem dos tanques, o homem que ninguém sabe quem é, que foi retirado da frente dos blindados por amigos ou por agentes. Ninguém sabe. Ninguém sabe. Mas esta foto (de Jeff Widener para a Associated Press) nunca se irá esquecer. Não é a foto, é a ação, a coragem, a força da razão que ultrapassa tudo, até uma coluna de blindados.
Por muito que alguns queiram, há mesmo coisas que não se esquecem.