Património Abandonado
Património histórico ao abandono
Existe uma aura de encanto e mistério que costuma caracterizar os lugares abandonados. A Torre de São Sebastião da Caparica, a oeste do Porto Brandão, pode-se considerar um belo exemplo disso. Só ainda não está totalmente abandonada porque existe alguém, um zelador por iniciativa própria, o Sr. Joaquim Xarepe, que assumiu a responsabilidade da manutenção do local.
Segundo nos foi dito, a sua proprietária actual é Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, presidente de Angola. Em Março ser-lhe-á conhecido novo destino.
Embora a Torre de São Sebastião tenha sido classificada como Monumento Nacional, por ventura o único no conselho, a Câmara Municipal de Almada não parece ter grande interesse em recuperar e preservar este património. Tentámos apurar quais as razões que estariam na base dessa opção junto da própria Câmara mas até ao fecho desta edição não nos foi dada uma resposta objectiva.
A Praia, na zona lateral poente, é agora ocupada por depósitos de combustível, o que acaba por ter um impacto ambiental e estrutural prejudicial para a Torre.
No entanto, a vista privilegiada sobre o rio Tejo e a natureza envolvente aliadas ao factor histórico são motivos suficientes para despertar alguma curiosidade acerca deste local. E para isso, existem pequenas visitas de grupo guiadas a este recanto da história. Ainda assim, não deixa de ser estranho como também passa despercebido a muita gente, mesmo residentes no Concelho.
O que o futuro lhe reserva ainda é uma incógnita, mas a história que respira é incontornável.
Considerada a mais antiga fortificação portuguesa destinada à defesa marítima, a Torre de São Sebastião, ou Torre Velha, é uma das componentes de um sistema de três torres da barra do Tejo. As outras duas são a Torre de Santo António de Cascais e a Torre de São Vicente de Belém, esta última encontra-se alinhada com o forte, na margem oposta.
A distância entre estas torres não permitia o alcance total do rio, daí a existência de uma nau no centro do Tejo, para reforço de tiro das baterias que não alcançavam a distância pretendida.
Para além da sua função de defesa da entrada em Lisboa pelo rio, esta fortaleza é ainda um dos mais importantes exemplos da arquitectura militar renascentista do país.
Em 1814, a Torre passou de fortaleza a Lazareto, local destinado a albergar, em quarentena, todos os tripulantes dos navios que chegavam com suspeita de epidemias. A planta do edifício é semicircular, com saída para vários edifícios, cada um destinado a um tipo de maleita diferente. A entrada para o Lazareto era feita pelo rio, no Porto Brandão. Em 1857, foi construindo um novo Lazareto em Lisboa com melhores condições.
Após a descolonização, o Lazareto do Forte de São Sebastião passou a ser conhecido como Asilo 28 de Maio, ocupado então por retornados das ex-colónias. Nos dias de hoje fala-se na possibilidade de vir a ser um hospital particular.
Até ser tomada uma decisão, a natureza não pára o seu curso e a vegetação irrompe selvagem a cada passo. Animais pastam na propriedade, entre eles existe um bode que é simbolicamente considerado o “guardião da torre”.
Na área pertencente ao forte, um tesouro natural resiste. Um dragoeiro, de 150 anos, árvore que deve o seu nome à sua seiva vermelha, que era comercializada com o nome de sangue-de-dragão. No seu tronco e ramos encontram-se inscrições de antigos militares.
Na Torre de São Sebastião da Caparica, a história manifesta-se ao longo do tempo e em cada pormenor. Seria realmente um desperdício de potencial se deste património nada mais restar senão ruínas.
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