Resistir ao Trumpolini
Muitos tentam refletir e compreender este mundo que Donald Trump está agora a começar a construir.
Um mundo em que outros se empenham já também. Não só os que vão avançados nessa intenção, como a Hungria e a Polónia, aqui na Europa, mas também, quem sabe, ainda outros mais que projetam seguir com intenções semelhantes…
Já aqui referi as grandes mudanças tectónicas da sociedade presente, principalmente movidas por uma globalização cuja maior preocupação foi o enriquecimento dos mais ricos – com sucesso, e, por outro lado, a impante revolução tecnológica que isolou uma faixa social importante do mundo ocidental.
No entanto, menos referido, é que estas dinâmicas tiraram da pobreza muitos milhões de pessoas. Enfim, esquecendo que, apesar de terem mais dinheiro, vivem em sistemas políticos ditatoriais e numa situação de parcos direitos humanos, desconfortavelmente próximos da escravatura.
Mais uma razão para colocarmos as questões dos direitos humanos e da democracia no centro essencial do discurso político atual. Precisamente os temas que Donald Trump sempre esquece.
Não sei se as anunciadas vitórias futuras das direitas pró fascistas se irão verificar na Europa. Creio que não. Porém, como sou um optimista inveterado, pode muito bem ser uma questão de esperança plasmada na previsão. Veremos o que irá acontecer nas eleições francedsas, alemãs e holandesas, já este ano…
Para mim, uma coisa é certa: este “trumpismo” é perigosamente próximo do fascismo e Donald Trump, apesar da melena, é demasiado parecido com Mussolini. Para mim, é mesmo uma espécie de “Trumpolini”. E não estou a pensar em semelhanças físicas…
É preciso chamar as coisas pelos seus nomes. Só assim poderemos reagir com a veemência necessária a estes avanços: tal como se está a desenhar neste momento, o “trumpismo” é um fascismo e este meu “trumpolini” não é brincadeira nem trocadilho, nem sequer de mau gosto. É uma denúncia: o rei vai nú!
Parecem-me evidentes não só a semelhança nas poses: o autoritarismo, o populismo tuiteiro, o nacionalismo, o protecionismo, o desprezo pela verdade factual, o desrespeito por quem não segue o líder, especialmente os mais frágeis… enfim, claramente uma realidade que bebe dessa água, que ultrapassa o neofascismo, talvez se constitua no pós fascismo, juntando-se a figuras como Silvio Berlusconi, por exemplo, cujo porta voz é agora presidente do parlamento europeu.
Enfim, a definição desta proximidade pode ficar para depois. É um exercício académico. Agora o que me interessa é demonstrar a possibilidade clara de resistir a esta ameaça que parece avassaladora. Resistir, nós, pobres de nós? Sim, a resistência é simples e óbvia. E dou um exemplo: a Gandaia.
Pois é. A Gandaia e os milhares de associações como ela. Grupos de cidadãos que se reúnem para debater, discutir as grandes questões do presente. Ou simplesmente fruir arte, opinar, livremente, sem importar as sensibilidades políticas. Ou melhor, APROVEITANDO as diferentes sensibilidades políticas para melhor compreender a realidade, para construir soluções mais abrangentes, mais compreensivas.
São estas instituições – que evidentemente não substituem as instituições do estado democrático – que constituem a defesa mais eficaz contra estas manipulações grosseiras da sociedade. São elas que chegam aos cidadãos individualmente e criam laços comunitários e hábitos que são críticos, que apelam à reflexão, à cultura, à educação.
Ouviram os apelos de vários políticos americanos, incluindo Obama, para que o Partido Democrático se volte a ligar às suas bases, se dedique ao trabalho político fundamental? Pois que significa isso? Eu digo-vos: têm de construir uns milhares de Gandaias, participar na sua vida associativa, comungar com os cidadãos, partilhar as suas experiências quotidianas.
Amigo Ricardo Salomão,
apreciei positivamente a sua análise ao Resistir ao Trumpolini, acrescentarei que, com o Trumpolini existem também oportunidades pelo Mundo fora de se arregimentarem forças, capazes de romper com o perverso establishment designado por Globalização, aquele que criou riqueza e aumentou exponencialmente o fosso entre os mais ricos e os mais pobres! Gostei particularmente desta citação:” Ouviram os apelos de vários políticos americanos, incluindo Obama, para que o Partido Democrático se volte a ligar às suas bases, se dedique ao trabalho político fundamental? Pois que significa isso? Eu digo-vos: têm de construir uns milhares de Gandaias, participar na sua vida associativa, comungar com os cidadãos, partilhar as suas experiências quotidianas”. Bem haja por nos apontar os melhores caminhos para o futuro…