Saudade…

saudadeHá momentos nas nossas vidas em que sentimos a falta de amigos com quem vivemos tantos momentos de emoção, preocupações  comuns e alegria, em convívios que não voltam mais… Muitas vezes, ou melhor, quase sempre, as recordações e a saudade, essa palavra tão portuguesa, avivam a sua presença junto de nós. O silêncio leva-nos até eles.

Sentado na esplanada da praia das Palmeiras, com a foz do Tejo na frente e o farol do Bugio como referência, estou a escrever esta crónica. Foi nessas águas azuis que em 17 de Julho de 1974,um desses amigos desapareceu. Já falei dele noutras ocasiões, mas não é demais repetir-me. Ao Armando Félix, que o mar ainda conserva em seu poder, como escreveu Sophia nos seus versos « Agora liberto moras/Na pausa branca dos poemas/Teu corpo sobe e cai em cada vaga/Sem nome e sem destino/Na limpidez da água.», associam-se os nomes de muitos mais que repousam, para sempre, em locais que todos podemos visitar. Já são muitos. Os meus 76 anos já lembram tantos companheiros das jaquetas rubras, de ramagens que, em algumas tardes, vinham manchadas de sangue de toiro, ou dos próprios, e que a morte já levou. Quase todos os do Grupo inicial já nos deixaram, mas continuam a ser marcos inesquecíveis nos nossos momentos de silêncio e de meditação. Recordo , como se fosse hoje, a minha primeira tourada, com a jaqueta dos de Montemor, em 11 de Agosto de 1957, na alentejana praça de Vila Viçosa.

No Verão de 2007, neste mesmo lugar onde estou agora, escrevi um poema para o Armando Félix, que hoje aqui deixo para todos os que não podem já admirar este mar azul a as arenas douradas das nossas praças de toiros: Olho o mar,/A praia,/O farol do Bugio./No oceano azul/Um braço no ar,/Um último adeus…/Na espuma das ondas/Espero que tu venhas/No colo de uma sereia./No domingo passado/lembrei-me de ti/Na arena dourada./O toiro negro,/Como a noite sem luar,/Esperava o teu desafio./As ovações iam romper,/Iguais às que tu escutavas/ Antes de morrer!

Eu por cá vou caminhando, escutando os silêncios nas planícies ardentes do nosso Alentejo ou sonhando junto a este mar tão português, que me acolhe e me inspira, nesta Costa da Caparica, que agora também é minha.

António José Zuzarte, Costa da Caparica, 13 de Março de 2016.

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