Diálogo na Gandaia

É com a peça O Segredo de Quem Somos que o Teatro da Gandaia volta a acção. E enquanto decorrem os ensaios o Notícias da Gandaia falou com a encenadora, a também actriz brasileira Christiane de Macedo.

É louvável o esforço que os diversos agentes culturais têm vindo a desenvolver – muitas vezes “contra ventos e marés” – para promover uma maior ligação entre as pessoas e a Cultura. Entre as várias actividades artísticas existentes na Margem Sul do Tejo, o teatro tem tido um importante lugar de destaque. São inúmeras as companhias, amadoras e profissionais, que a ela se dedicam. A Associação Gandaia, no seu empenho de divulgação da cultura entre as populações abriu uma nova valência ao criar um novo grupo de teatro. Para o efeito passou a contar com a colaboração da actriz e encenadora brasileira Christiane de Macedo, actriz premiada no Brasil, encenadora e dramaturga, que está a desenvolver um projecto de formação de actores, bem como a montagem da peça O Segredo de Quem Somos para o Teatro da Gandaia.

 

Poderia falar-nos sobre Christiane de Macedo?

Sou brasileira (espantada com o atual momento que vive meu país…). Nasci no Rio Grande do Sul, na ponta do mapa, e cresci em Curitiba – Paraná. Aos 14 anos ingressei num grupo de teatro amador. Aos 16 anos entrei na Escola de Teatro e, desde lá, minha vida foi toda dedicada à Arte Dramática. Trabalhei com inúmeros encenadores brasileiros o que me levou a conhecer todo o Brasil, convivendo com suas várias e diferentes culturas. Uma vida itinerante, de experiências importantes e significativas. Através do convívio intenso com o artista plástico e cenógrafo Marcelo Scalzo entendi que o palco é mais que um espaço de representação, mas que constrói pequenos universos e, assim, dilata o espaço a ponto de criar um mundo que serve à representação.

O que a motivou a vir para Portugal?

Um belo país. A mesma língua. A curiosidade de conhecer o cenário artístico, a possibilidade de conviver com artistas portugueses, numa busca de diálogos estéticos e troca de experiências, de saber com o corpo todo como se pensa a Arte aqui.

Tudo começou quando encenei fragmentos de Os Lusíadas, de Camões, em 2007. Também a poesia de Fernando Pessoa sempre me encantou. Em Lisboa, através do Centro Intercultura Cidade, juntamente com os colegas da Cia Radicalidade, Octávio Camargo e Chiris Gomes, apresentamos fragmentos da poesia portuguesa, entre os quais Cabaret Pessoa, Sidónio Muralha e Camões. Conheci várias associações de cultura, fiz amigos, trocamos informações e, se antes tinha motivos para estar aqui, agora eles se intensificaram fortemente. Tenho assistido a algumas montagens de grupos locais de teatro e identifico fortemente o fascínio que o teatro desperta e envolve esses artistas. Para mim, isso é muito estimulante, pois tenho percebido a busca por uma linguagem autoral. Além disso, tenho me comovido com a grandeza de alma que tem a gente desta terra.

Pelo seu currículo, sabemos que tem representado bastantes peças clássicas e de forte conteúdo filosófico, isto é uma opção?

Como frequentei a Escola de Arte Dramática visitei os autores clássicos, com o tempo necessário para absorver a riqueza desta escritura; atuo e sou integrante da Companhia Ilíada Homero, em Curitiba, onde os 24 cantos da Ilíada e Odisseia foram erguidos e são representados na íntegra e ditos de memória (sem o papel na mão) dirigidos por Octávio Camargo. Atuei em peças de Arthur Miller, Brecht, Molière, Sartre, entre tantos, mas hoje me interesso pela produção de textos autorais, e não que seja uma escritora, claro que não. Mas é a partir da subjectividade de cada ator para dizer o que os inquieta que me move especialmente. Gosto de passear pela alma humana. Tudo já foi escrito pelos grandes mestres do teatro. O que me atrai neste momento é visitar o que de mais íntimo cada um tem como depoimento.

O que tem feito Christiane actualmente em Portugal?

Em Setembro do ano passado apresentei um monólogo À Beira do escrito, encenado e representado por mim no Auditório da Associação Gandaia, no Teatro Cinearte, de A Barraca, no Centro Intercultura Cidade, no Fórum Lisboa, na Associação José Afonso, no Teatro A Bruxa, em Évora, e em Pernes. A direcção da Associação Gandaia fez-me um convite para criar um núcleo de Teatro que culminaria com uma montagem teatral. Muito honrada, aceitei prontamente, e estamos trabalhando muito motivados. Iremos trazer à cena uma peça que será o resultado deste encontro artístico entre mim e os integrantes deste processo. São atores principiantes e outros experientes. Essa mistura está nos enriquecendo a todos. A partir da criação das personagens escrevi textos para cada ator que irão compor este trabalho O Segredo de Quem Somos.

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