Terras da Costa
A Vida dos Bairros Importa
Onde estão as imagens das obras com os moradores? Agilizando com a Associação de Moradores a colocação de eletricidade e dos pontos de água? Seu percurso e intervenção após sucessivas e exaustivas reuniões com as entidades e órgãos competentes?
Onde estão as imagens com os moradores da construção da Cozinha Comunitária e da Escola de Alfabetização das Iniciativas e programas de projetos culturais e dinamizadores do espaço, do bom senso e das boas práticas e virtudes?
Onde estão as imagens das boas soluções? Onde estão as vacinas sociais?
Como sabem o Bairro das Terras da Costa foi assaltado pelos estilhaços de uma guerra entre a boa fama e a virose da difamação provocada pelo vírus de caminhos não aconselháveis, colocando no mesmo caldeirão diferente caldeirada.
Os problemas têm rostos e nomes. E uma comunidade não pode ser coletivamente crucificada. Isso é injusto, insultuoso e caluniador. Cada um responde por si pelas suas decisões e responsabilidades.
Um bairro não é uma bomba para detonar cada vez que aparece um rastilho.
Espero que não se tenha de usar máscaras para nos escondermos, mas se as usarmos é para nos proteger das tosses e das gargantas inflamadas e da maledicência proverbial.
O gel desinfeta as mãos, mas não as línguas.
Quem conhece o Bairro das Terras da Costa sabe que não é só aquilo que vimos na televisão, e sabe que não se deixa manipular pela exploração das vulnerabilidades e debilidades do seu contexto.
Não é pelas casas serem feias e esteticamente imorais no seu padrão convencional que tem de se presumir que o território seja ameaçador e bulímico. Porque o lugar onde moramos nunca esgotou o perfil de um indivíduo.
Não consigo perceber a concentração de 100 militares para 50 casas, tendo como alvo apenas seis dessas casas. E ainda para mais termos de ser revistados antes de ir trabalhar.
Se fosse na Torre das Argolas teria esta dimensão?
Sem procurar uma vitimização fácil e desculpabilizante, também não podemos deixar de enfrentar a realidade complexa e desafiante do quotidiano nestes territórios que também são parte da nossa sociedade.
Estas e outras calamidades emergentes existem não por falta de distância de segurança, mas sim por falta de proximidade suficiente.
Esta vacina pode não ser a cura mas pode prevenir futuras contaminações.
A dignidade é um sentimento que um indivíduo tem sobre o seu próprio valor social e moral. Aprisionar as pessoas em estereótipos, distorce a imagem que podem ter de si próprias.
Uma vez, perguntei a um miúdo do bairro o que queria ser quando fosse grande. Ele respondeu que queria ser bombeiro de ambulâncias, ou seja, salvar vidas. Um outro queria ser veterinário e outra, professora…
É por tudo isto que a vida dos bairros importa. E nós nos importamos também… Daniel Miranda