Terras de Ninguém

terrasleloA Comunicação Social está a carregar na situação das Terras da Costa. Televisões e jornais vêm capitalizar públicos com imagens e notícias fáceis para atrair emoções ainda mais fáceis. O problema, porém, não é nada fácil e nada tem de simples.

Nas televisões vimos imagens de residentes aos gritos e a chorar. Nos jornais – até no Público – lemos o apelo ao sentimento com a menina que não quer mostrar a casa abarracada aos colegas (clique para ler).

Lemos ou vemos as declarações da Junta a pedir responsabilidade. Lemos ou vemos declarações da Câmara a pedir responsabilidade, até o sr. pároco diz que os outros foram irresponsáveis por trazerem água e uma cozinha comunitária.

As Terras da Costa são Terras de Ninguém.

Ninguém quis saber, ninguém é responsável. Agora sucedem-se as declarações.

Se olharmos em volta, todos os municípios resolveram as questões dos “bairros da lata”. Lisboa, Sintra, Cascais, Oeiras, Loures… Foram as autarquias? Foram os governos sem interrvenção das autarquias?

Aqui na Costa e na Trafaria ainda temos “ilhas” como estas. Culpa-se o CostaPolis, culpa-se o(s) Governo(s) mas a verdade é nua e crua. Deixou-se construir o que não se devia ter deixado, não se construiram as habitações que se deviam ter construido. Não se abordou o propblema de forma a enfrentá-lo e resolvê-lo.

Nos discursos, todos invocam a proteção aos mais desprotegidos, permitem-se as famigeradas “casas abarracadas” em nome dos direitos. Porém, isso é esconder – com hipocrisia – a discriminação. Uns vivem como podem, outros vivem assim.

No entanto, permitir estes bairros porque todos têm direito à habitação é um argumento inaceitável. Assim ninguém pode viver, e essa é a verdadeira fasquia, a verdadeira fronteira. Não pode.

Esse argumento é uma desculpa para o facto de que nada foi feito. De que se fecharam os olhos prejudicando quem vive desta forma e prejudicando também os projetos – legítimos – de desenvolvimento sustentável, projetos de turismo, que até há dias todos os responsáveis diziam estar interessados, empenhados e que todos se assumem como promotores.

Desenvolvimento assim? Responsáveis para umas coisas, mas para outras não?

No entanto, há ainda mais uma questão inquietante : Porque não há bairros destes na cidade de Almada? No Feijó, no Laranjeiro?

Para aqueles que só podem viver assim, têm de existir outras soluções.

Tem de se exigir a implementação efetiva da regra “assim não”.

Por um lado, evitar que vivam assim aqueles que podiam viver de outra forma mas não querem, ou acham que a comunidade acabará por subsidiar uma outra solução. Por outro lado, criar soluções efetivas para quem não pode realmente aceder a habitação e condições condignas.

Resolver esta situação passa por ir falar com todos aqueles residentes e apurar com rigor a sua situação. Resolver esta situação passa por enfrentá-la. E depois não permitir mais construção.

Mais, é preciso também respeitar aqueles que pagam IMI agravado por pertencerem a uma zona turística.

Tristeza.

É triste ver que 300 famílias vivem desta forma. É triste ver os responsáveis lançarem responsabilidades para outros, quando na verdade deixaram de inscrever este problema nas suas agendas, quando na verdade isto acontece porque o permitiram, quando na verdade isto acontece porque não houve empenho para produzir soluções. A verdade é que se calaram. Permitiram. Fecharam os olhos. Fingiram que não existia.

Esquecem que para nós, cidadãos contribuintes, Governo, Câmara, Junta, Institutos e CostaPolis, etc. todos eles à mesa do orçamento, à mesa do nosso dinheiro, são os responsáveis. Para nós, não há para onde fugir. Há é que encontrar soluções. É para isso que lá estão, é para isso que os elegemos. Foi para isso que foram nomeados e juraram cumprir as suas funções.

Tristeza também pelas notícias a aproveitarem a tristeza para vender papel e ganhar audiências.

3 thoughts on “Terras de Ninguém

  • 24 de Maio, 2015 at 19:49
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    Concordo com a tristeza e descrição dos factos, acrescentaria que, aos fracos poderes locais e Nacionais a responsabilização maior cabe às politicas da União Euopeia appoiantes de guerras em Africa e países Árabes, onde milhares de pessoas são diariamente forçadas a sair de suas casa e atirarem-se às águas do Mar Mediterrâneo em condições desumanas, morrendo muitos antes de pisarem terra firme na Europa, onde são acusados de emigrantes clandestinos e mesmo de criminosos em alguns países. Finalmente a União Europeia, numa atitude de “reconhecimento implícito” da sua responsabilidade irá recolher alguns milhares dessas vítimas da guerrra, Portugal tambem receberá umas centenas, acabando por afetar a nossa já débil economia; os vizinhos refugiados (aqui nas terras), cada um terá a sua história mas, a miséria não tem morada nem mesmo Pátria!…

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  • 23 de Maio, 2015 at 0:52
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    Parabéns pelo excelente artigo! Completamente de acordo com a análise e com as soluções propostas!

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  • 22 de Maio, 2015 at 21:25
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    Extremamente lúcido, e de uma absoluta simplicidade.
    A culpa é de todos vós políticos e outros que aparecem agora a pedir responsabilidades uns aos outros.

    Vergonha de Jornalismo.

    Haja o nosso Noticias da Gandaia, com o seu grande timoneiro Ricardo Salomão.

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