Uma Lenda da Noite
Era uma vez uma noite de verão num país distante.
No céu escuro cintilavam miríades de estrelas e podia ver-se a olho nu alguns planetas iluminados pela sua luz, que a distância tornava escassa.
Conta-se que, subitamente, o firmamento foi iluminado por um clarão de enorme intensidade. Estranho fenómeno, que ninguém na altura soube explicar, mas que, devido à sua grandiosidade cénica, a todos encantou. Os sábios, depois de muito indagarem, chegaram à conclusão que aquele prodígio se deveu à rara conjugação de uma estrela com um planeta na mesma órbita, no mesmo tempo, e no mesmo espaço galáctico.
O encontro, íntimo e mágico, daqueles dois astros gémeos, embora tão diferentes na sua essência, que vogavam solitários na imensidão do universo, foi assombroso.
Quem viu, diz que havia a percepção de que os dois astros se “olhavam” extasiados, dir-se-ia, “apaixonadamente”; e eles ignoravam o mundo em redor, só a si se viam; e “sorriam” e os seus sorrisos eram puros e irradiavam luz, uma luz infinita.
A beleza do encontro daquela estrela com aquele planeta foi admirada, durante muitas e muitas noites luminosas. E não foi só nos céus daquele país distante. Há vários relatos de observações de tão belo e estranho fenómeno noutros continentes.
Quem a ele assistia ficava encantado e era invadido pelo frémito do amor. Muitas vezes, a intensidade do amor que emanava dos astros era tão intensa que provocava inveja naqueles que não conseguiam amar tanto.
Aquele brilho intenso e deslumbrante iluminou as noites durante vinte e cinco anos até que, de súbito, a estrela, inesperadamente, saiu de órbita, afastou-se como uma estrela cadente, riscou o firmamento e extinguiu-se na penumbra do horizonte celestial. Ninguém mais a viu, mas pensa-se que poderá ser encontrada numa região sem tempo e sem espaço, chamada eternidade.
O planeta, estupefacto, viu-a afastar-se e desaparecer e logo a sua própria luminosidade também definhou. Carregado de tristeza, afastou-se para um mundo de sombras, onde ainda arrasta agora a sua dor.
Desde então, em raríssimas ocasiões, ele já foi visto, embora iluminado pelo brilho fugaz de alguma estrela que casualmente lhe passe perto, mas notaram-lhe sempre grossas lágrimas nos olhos mortiços. Pensa-se que ele anda à procura do seu próprio caminho da eternidade e talvez, quem sabe?, voltar a encontrar a sua querida estrela, numa outra órbita e num outro tempo.
Porém, desde então, as noites de Verão nunca mais voltaram a ser tão maravilhosamente luminosas.
Reinaldo Ribeiro
21DEZ2008
escreves com o coração poesia profunda, adoro ler.