Natureza renovada…
O cardo-marítimo (Erygium maritimum L.) com as suas flores azul-vivo, minúsculas mas reunidas em capítulos, as folhas de cor verde-água ou cinzento-azulado, cobertas pelos seus espinhos aguçados, lá continuam a povoar as brancas dunas. Os insectos procuram nas suas flores o polén para se alimentarem. Há Vida nestas areias. Mesmo com a presença do Homem, lado a lado, elas estão cuidadas neste inicio do Verão. Passa-se isto na praia Spianatadimare – antes praia das Palmeiras – em São João, na Costa da Caparica.
Os lírios brancos das dunas estão agora a florir nos seus habitats que, a pouco e pouco, se vão consolidando. No ano passado era um lírio solitário. Espalhou as suas sementes. Novas plantas nasceram e o solitário já tem novos filhos a crescer e a florir à sua volta. É bom saber olhar, comparar, viver. Escutar a terra. Os silêncios das plantas. Vê-las crescer… Não vivemos só para queimar a pele ao Sol, ganhar bronzeado para o Inverno, beber e acompanhar conversas mundanas, mas procuramos algo mais… Um prazer mais simples que nos dê motivos, razões fortes, para continuarmos vivendo. O Sol brilha durante o dia e a maresia da noite ajuda e mantém vivo este ecossistema… Complexo, frágil, mas tão necessário na consolidação das dunas, da vida, da Natureza.
À sombra desta vegetação rasteira, junto ao caule das plantas, vive uma fauna bastante interessante de pequenos seres. No mundo maravilhoso e vastíssimo dos insectos, pode-se encontrar o grande Scarites e os pequenos Erodius, estes com o seu corpo arredondado, não param de correr pelas areias das praias e das dunas, buscando alimento. É a espécie mais visível nestas paragens num conjunto de muitas centenas delas.
Numa tarde de praia, em 25 de Abril de 2011, a pequena Leonor, já próxima dos seus três anos, apareceu junto de mim com a mãozinha fechada, cheia de areia, e disse-me: “Avô, tenho aqui um bicho para si”. Quando abriu a mão vi espantado um coleóptero negro, com cerca de 1 cêntimetro, que nunca tinha encontrado. Vim a saber posteriormente que se tratava de um Zabrus (Euryzabrus) pinguis Dejean, 1831,que se encontra na costa portuguesa, sendo este lugar da Costa da Caparica, o local mais a Sul, onde até hoje foi encontrado. Ela e o irmão Afonso, quando encontram algum “bicho” chamam sempre o avô António para ver… Como já fazia, há 25 anos, a Inês, a minha primeira neta. É bom que aprendam, logo em pequenos, que além dos Homens, existem muitos outros seres vivos – plantas e animais – que devem ser protegidos… Mas, para melhor proteger, é necessário, primeiro que tudo, conhecer e amar a Natureza.