Momentos

MomentosEsta vida que nos foi dada a viver, é composta de pequenos momentos inesquecíveis, sejam eles aprazíveis, que nos provocam sensações de inolvidáveis alegrias e outros que nos ficam na memória, porque nos feriram profundamente.

Às vezes é uma música que de repente, num local menos provável ouvimos e nos faz viajar num DEJÁ VU de uma situação em que todo o momento foi perfeito.
Outras é o Sol, que nos abraça num abraço cálido e sensual e nos faz sentir como um pequeno animal irracional, dando-nos vontade de nos espreguiçar e rebolar pela areia ou erva húmida, deitar a língua de fora a quem nos olha com reprovação e abanar a cauda inexistente, dizendo ao mundo que nada mais importa.

Pode ser também um olhar, que bate como um bólide desgovernado no nosso, nos fixa e deixa nua a nossa alma, que tantas vezes tentamos esconder, por pensar que tem defeitos inconfessáveis, numa comparação com outras, que nos apresentam límpida… E acreditamos.

E esse olhar ora nos apavora, ora provoca em nós arrepios de prazer e uma batida mais forte no coração, que solitário se encontra.

De vez em quando um riso cristalino solta-se, de uma criança deslumbrada por um brinquedo exposto numa vitrina ou ao pisar propositadamente uma poça enlameada, que tantas vezes pais e avós proibiram ou ao saborear um gelado, que pinga na camisola, porque o vagar com que se delicia, não se compadece com o instante breve que permanece sólido, ou mesmo numa bola de sabão, que ao soprar se solta colorido e foge com o vento que sopra e ele tenta agarrar para guardar no bolso.

É a água fria, no primeiro mergulho do ano, num mar vasto e esverdeado, com branco no rebordo das ondas de Abril, num choque térmico, que solta do corpo a impressão de recolhimento forçado.

É a lembrança de um amor por um pai, perfumado com brilhantina nos cabelos rebeldes, que se foi e que tanto deixou por dizer, ou de uma mãe que ao partir deixou de si o cheiro a guisado, a torradas com mel, a bolo assado no forno e a conselhos que nunca seguimos.

É a paixão por um homem… Primeiro, que sempre se julga será o único e último e que sempre que acaba em desilusão, juramos não repetir, porque a dor que causa o desmoronar de tantas ilusões nos consome dias e noites, tornando-nos seres num estado de embrutecimento e amargura, mas que sem permissão volta a acontecer, uma e outra vez, num carrossel, que ao mesmo tempo que nos entontece nos faz vibrar de emoções que viciam e para as quais não existe antídoto.

Em todos estes momentos, existe a exaltação e a desilusão, mesmo que aconteçam num espaço de tempo milimétrico e uns e outros existem na vida, tornando-nos mais sábios a cada novo acontecimento nas várias etapas de uma vida, que sem momentos que alteram as nossas emoções, seria uma vivência sem história nem recordações.

Todos os momentos que vivemos e aos quais muitas vezes não demos a devida importância, tornam-se, quando já tudo deixa de ser importante, a vida já vai longa e se espera o fim, na principal tarefa da nossa memória, fazendo-nos viver aquietados com o olhar perdido num passado que sabemos por fim ter sido pleno.

accleme

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