A Cidade Proibida
Ainda há muitas cidades proibidas no mundo. Algumas, como por exemplo Meca, são proibidas a quem não for da mesma religião, as ilhas Sentinela, na Índia, que são proibidas a todos os forasteiros, sem exceção, sob pena de morte imediata, a Ilha das Cobras, no Brasil, por razões evidentes e, claro, diversas ilhas que servem de bases militares.
Duas das mais famosas cidades proibidas, já não o são: Tombuctu, no Mali, que sempre foi e é um centro de conhecimento, com comunidades islâmicas, cristãs e judias a conviverem pacificamente, porém, nos séculos XV e XVI foi proibido o acesso a estrangeiros. Azar o nosso, que foi precisamente nessa altura que a queríamos vasculhar no fervor da nossa expansão.
E a Cidade Proibida em Pequim, que é aquela que aqui me traz e até lá me levou em 1998.
Queria ter lá ido muito antes, mas a rapaziada de 1989 foi adiando a visita, mesmo sem tumultos na Praça Tiananmen, em português Praça da Paz Celestial, nomeada pelo portão com o mesmo nome que dá acesso à Cidade Proibida. Que já não o é.
Antes de entrarmos na Cidade Proibida somos esmagados por esta praça descomunal, aumentada várias vezes, a última das quais pela mão do próprio Mao Zedong. Pela mão, é maneira de dizer, claro.
A Praça, além de gigantesca, ainda tem diversos pontos de visita, a começar pelo enorme mausoléu – devia ser Maosoléu – com a múmia do famoso dirigente chinês.
Acontece que na visita fiquei com a ideia, fixa, de que esta múmia era de plástico, e com boas razões. Na altura, a Rússia tinha cortado relações com a dissensão maoista e com essa zanga não houve embalsamadores russos a ajudar a operação a Mao, ao contrário do que aconteceu com Ho Chi Min, por exemplo.
O Mausoléu, além do edifício ancorado em diversas colunas, tem uma espécie de mural que podia perfeitamente ter sido desenhado pelos gráficos do Luta Popular, o jornal do MRPP, alardeando o estilo que alastrou por todo o mundo, baseado em operários musculados, soldados heroicos e mulheres, camponesas ou operárias, a liderar para o futuro.
Também no meio da praça fica o monumento aos heróis do povo, mais parecido com uma coluna do que com um obelisco, situado mesmo em frente ao mausoléu, sublinhando o papel de Mao Zedong ainda hoje.
É verdade que o estadista teve decisões de uma crueldade impressionante e as suas vítimas davam um outro país. No entanto, é incontornável o facto da China, no final da II Guerra Mundial e da guerra civil que se lhe seguiu, estar numa ruína total, não só pelas guerras, mas também pela voragem das potências coloniais, que os monarcas chineses não conseguiram conter.
Foi realmente Mao que uniu a China e a elevou a um país independente e com recursos para garantir a subsistência da sua população. E sem ópio.
Isto, apesar de ser só depois do fim do seu radicalismo político que a China se alcandorou à atual posição de relevo mundial, à riqueza económica e até à ameaça militar que hoje alardeia.
A veneração a Mao Zedong perdura, muito devido ao génio de Deng Xiaoping, o obreiro da nova China, que percebeu ter só vantagens em manter a veneração, dando sinal de manutenção do rumo, apesar das profundíssimas mudanças políticas.
Ladeando a praça ficam dois grandes edifícios: o Museu Nacional e o imponente Salão do Povo, lar do Congresso Nacional Popular da República Popular da China (RPC) e do seu Comité Permanente.
Esta é a maior assembleia do mundo, albergando quase 3 mil delegados, além das comitivas, média, etc. presentes em todas as suas reuniões plenárias que acontecem anualmente. Escusado será dizer que todos os congressistas são membros do Partido Comunista.
Neste enorme salão, por vezes, acontecem concertos, como foi o caso de Pavaroti, assim como outros eventos. Quando nada disso está a decorrer, o salão pode ser visitado, que foi o que fiz. Não é grande, é enorme, é tal e qual como as televisões o mostram, mas muito maior.
A escala, tal como nos EUA, é manipulada com um objetivo político evidente: subjugar os cidadãos e visitantes à grandeza imperial da nação. É o mesmo em Washington, tal como foi no Terreiro do Paço…
Depois dos preâmbulos, lá me dirigi à Cidade Proibida, atravessando o Portão Sul, da Cidade Proibida, percorrendo o túnel por baixo do enorme quadro de Mao, uma tonelada e meia de liderança que tudo vê.
Não tive medo de que a enorme moldura me caísse em cima, mas fui pensando nas razões que levaram os responsáveis chineses a optarem por uma pintura a óleo, sujeita às agruras do clima, que em Pequim não são negligenciáveis.
Na verdade, este enorme e pesado retrato tem de ser retirado anualmente e retocado, à mão, no atelier do pintor oficial, Ge Xiaoguang, nomeado pelas autoridades em 1977. Já vamos no quinto.
É interessante esta opção que, na minha opinião, simboliza o respeito, melhor, a veneração, devida ao antigo líder, assim como a ideia de que a pintura a óleo tem um estatuto que outras soluções não teriam…
Existe um caminho central que atravessa toda a Cidade, na sequência do túnel de entrada e atravessando todas as grandes edificações ao longo de perto de um quilómetro. De largura são cerca de 750 metros e, naturalmente, é considerada património mundial pela UNESCO.
A Cidade Proibida começou a ser construída em 1406, sob as ordens do Imperador Yongle, que dessa forma mudou a capital chinesa de Nanquim para Pequim. A construção teve quase um milhão de operários o que, convenhamos, não constitui surpresa na China.
Este Imperador ficou famoso também pela sua curiosidade em relação ao exterior do império, tendo encomendado diversas expedições, uma das quais, chegando ao Cabo das Tormentas.
Entrei na Cidade Proibida e imediatamente aluguei o audioguia, em inglês, narrado por Roger Moore. Sim, o do Santo e depois do 007. Foi a sua voz que me foi explicando o que ia vendo.
O que a voz nunca poderia explicar é a sensação de imponência, tripla, diria eu. Por um lado, a imponência dos edifícios, que é evidente e claramente intencional. A cidade esconde-se entre muros de 7 metros de altura. É tudo uma questão de projeção de poder, e ocultar o que a elite faz, é uma das formas de alimentar essa projeção de poder.
Outro aspeto imponente é o tempo, também ele esmagador, um espaço acabado de construir em 1420 e que albergou 24 dinastias Ming e Qing não pode deixar de esmagar um visitante.
Finalmente, a última desta tripla de imponências, é a dimensão histórica, avassaladora, de um sem número de acontecimentos, de personagens de histórias que se fundem na História propriamente dita.
É fácil, muito fácil mesmo, imaginar o último imperador, Pu Yi a pedalar na bicicleta oferecida pelo seu tutor escocês, Reginald Fleming Johnston. Claro que não é difícil porque o vimos no excelente filme de Bernardo Bertolucci, mas adiante, Hollywood está sempre a intrometer-se na História.
Retomando o percurso, passado o portão Sul, ou, na gíria oficial, o Portão Meridiano, logo em frente, podemos ver as várias pontes que atravessam o fosso protetor em direção ao Portão da Suprema Harmonia.
Este fosso é considerado um rio, tendo a sua nascente na Colina Dourada estendendo-se por mais de dois quilómetros, excedendo os muros da Cidade Proibida. Além da proteção defensiva que constitui, com a sua largura entre 2 a 12 metros, conforme o local, desempenha também um papel importante na prevenção de inundações e, claro, um valor paisagístico evidente.
À direita e à esquerda, dois torreões guardam os muros desta cidade (nos cantos a Norte, a disposição é igual), enquanto, pouco depois, dois portões laterais, normalmente encerrados, se impõem: o Portão Glorioso do Este e o Portão Glorioso do Oeste.
Ah pois é, nada menos que gloriosos.
Naturalmente, em cada local considerado mais fotogénico, os nossos amigos chineses aguardam pacientemente e em fila, a sua vez de fotografar e ser fotografado. Não é coisa de vontade momentânea ou vaipe, ou travadinha. Nada disso. Há locais onde – toda a gente sabe – as fotos ficam melhores, ou, ficam para a história.
O Portão da Suprema Harmonia, com as suas 10 colunas cilíndricas vermelhas situa-se após uma pequena escadaria. Não tão pequena que ficasse assim ao nível de qualquer um, mas não constituindo uma escadaria difícil, um obstáculo trabalhoso que impedisse o acesso à Suprema Harmonia. Ninguém desejaria isso.
Durante a Dinastia Ming, o imperador realizava aqui, durante a manhã, sessões administrativas com a sua corte. Infelizmente, em 1886, num incêndio originado por uma lanterna derrubada na casa do guardas, esta grande sala foi completamente destruída. Passados oito anos de reconstrução, o Portão da Suprema Harmonia foi restaurado à sua atual imponência, mas as sessões da corte passaram a ser realizadas mais próximas dos aposentos do imperador.
Seguindo ainda em linha reta encontramos o Salão da Suprema Harmonia, bastante mais elevado – cerca de 30 metros – e de uma dimensão que traduz a sua importância. É a maior edificação em madeira de toda a China.
É aqui que se situa o trono imperial, rodeado, ou protegido, por cinco dragões, o que lhe valeu o título de Trono do Dragão, naturalmente, estendendo a classificação de “dragão” ao próprio imperador. É também neste salão que se realizam as cerimónias imperiais de coroação, casamento, etc.
O peso do local acabou por me aconselhar a ficar por ali, observando os milhares de pessoas que o atravessavam, a maior parte delas rapidamente, cumprindo um qualquer programa turístico determinado pelos guias.
Como não conseguia ter sossego e acabava por centrar mais a atenção nas vagas sucessivas de visitantes do que no edifício propriamente dito, segui viagem.
Foi assim que cheguei ao Palácio da Pureza Celestial, vindo em linha reta do Salão da Suprema Harmonia, através de uma espécie de caminho elevado e murado.
O Palácio da Pureza Celestial tem telhado duplo, à moda chinesa, suportado por 10 colunas de madeira, pintadas ou lacadas a vermelho, formando largas portas de acesso, desiguais na sua largura, sendo as mais amplas aquelas que coincidem com o caminho murado.
Durante a dinastia Ming era aqui que o imperador dormia. Havia 9 quartos, em dois níveis diferentes e um total de 27 camas. O imperador não dormia sempre na mesma cama por razões de segurança.
Posteriormente, na dinastia Qing, ou Ch’ing, conforme as regras de romanização, (sendo no entanto, que a leitura do “Q” é “Ch”), este palácio passou a ser sede das reuniões do Grande Conselho.
Lá me sentei de novo, a observar os observadores, mas a imaginar as multidões de nobres, trabalhadores e servidores, coisa de vários milhares.
A Imperatriz Viúva, a célebre Cixi, ou Tsu Hsi noutra romanização, que governou de facto a China durante os ‘últimos 40 anos da sua dinastia e do império, que pouco mais durou após a sua morte, em 1908, mas enfim, só ela, comandava cerca de 3000 eunucos em várias funções, incluindo algumas que negavam a sua condição de eunuco. Além dos eunucos, uma corte de mulheres que se dedicavam às mais diversas funções deambulavam também pela Cidade Proibida.
Foi esta Imperatriz Viúva que comandou os destinos do país, com igual peso de habilidade e ferocidade, apesar de ter usurpado o poder através das suas manipulações palacianas, numa época em que o império se defrontava com desafios radicais, desde a revolta dos Boxers, ou Taiping, que no princípio ela apoiou, julgando que através dos revoltosos podia conter o confronto com os estrangeiros que na altura ocupavam já partes do país, nomeadamente ingleses, franceses, alemães, japoneses e… portugueses, que já estavam em Macau há séculos.
A fase final do império, ditada pela revolta republicana liderada por Sun Iat-Sen, o primeiro presidente da república, curiosamente com ligações à maçonaria portuguesa em Macau, uma vez que ele nascera a cerca de 20 km do enclave.
Dizer que Sun Iat-Sen liderava os republicanos é discutível pois várias eminências que apoiavam o imperador, vieram depois juntar-se-lhes, aumentando significativamente o seu poder, de onde se destaca Yuan Shikai, primeiro ministro do império, que passou a presidente da república numa jogada muito criticada, naturalmente, pelos monárquicos.
Com estes pensamentos, e observando o trono, podia observar a forma como o poder era representado numa cadeira que, na verdade, era muito mais do que uma cadeira. Podia confirmar uma construção com a imponência expectável, pequenas escadas que davam acesso à sua posição elevada, tal como era próprio de um imperador.
Seguindo ainda mais para norte, deparei-me com o jardim imperial, um espaço de lazer, embelezado na forma chinesa, com pavilhões, lagos, as tradicionais pontes em arco… Um local aprazível, digno de imperador.
À esquerda do Palácio da Pureza Celestial, situa-se o Salão da Cultivação Mental, que foi usado como aposentos imperiais mas, nos seus últimos tempos era usado para a administração direta do império.
Era ali, atrás de um painel de seda que apenas permitia vislumbrar o vulto, que a temível Imperatriz Viúva, Ci Xi, dava ordens aos seus mandarins e a todos quantos fosse necessário.
Foi ali que Pu Yi, o último imperador, assistiu à audiência de outra Imperatriz Viúva, Longyu, após a morte de Ci Xi, que recebia o ainda primeiro ministro Yuan Shikai, ambos lavados em lágrimas, segundo a autobiografia do último imperador, em que se tramou a sua abdicação.
Yuan Shikai nunca mais visitou a Cidade Proibida desculpando-se com uma tentativa de assassinato. Que ninguém mais presenciou.
Já Pu Yi, depois de abdicar, foi agraciado pela República com o direito de habitar a Cidade Proibida, mantendo ainda a sua corte, que foi sendo reduzida pouco a pouco, sem poder contratar mais ninguém.
Não é à toa que Bertolucci agarrou nesta história do último imperador. Que não termina aqui, como sabem, depois seguiu-se a fase de imperador da Manchúria, fantoche dos japoneses, 5 anos de prisão na Rússia, mais dez na China de Mao e, depois, quem diria, deputado do povo pela Manchúria, na tal enorme Assembleia Popular, logo ali, na mais enorme ainda Praça de Tiananmen, a metros da sua primeira residência na Cidade Proibida.
E depois… Pato
Como compreendem, a Cidade Proibida é coisa para – pelo menos – um dia inteiro a andar e muitos, muitos dias, meses e anos a digerir. Como se vê.
Precisamente, por falar em digerir, a refeição que podia culminar aquele dia só podia ser Pato à Pequim, e essa iguaria, só podia ter lugar no restaurante Bianyifang, fundado em 1416.
Mais de 600 anos a trucidar patos.
O Pato à Pequim é uma delícia construída à volta de pequenas tiras da pele do animal, com finas camadas de carne, pequenas crostas crocantes, enroladas numa espécie de panquecas finíssimas e tiras de cebolinho, com um molho espesso, Hoisin de sua graça.
Regado por cerveja, naturalmente, pois o gosto pelo vinho ainda não tinha chegado à China. Podia ter pedido a Tsingtao, que é bastante boa, mas pedi uma cerveja local, a Yanjing.
Tsingtao era a zona ocupada pela Alemanha quando havia possessões estrangeiras. Ficou a cerveja.
Acontece que a Yanjing, fresca, apesar de mais pesada, escorregava que era uma maravilha. O problema foi quando me quis levantar. Como assim? Fui verificar o rótulo e tinha 11 graus. Caramba, isso é vinho! Não admira… Não se pode beber vinho como se fosse cerveja, ou vice versa.
Lá reuni os meus berlindes todos e fui para o hotel.
A cama não se fez rogada e, na verdade, apesar das aparências, não se desviou um milímetro.
Adormeci com toda a pureza celestial.
Hutongs
Uma ida a Pequim, depois da Cidade Proibida e do delicioso pato, não ficaria completa sem uma visita aos seus hutong, um labirinto de vielas e siheyuan (residências antigas muradas), num mergulho popular, na vida palpitante da capital chinesa.
Não é só a realidade mais popular, pois não é qualquer um que, ainda hoje consegue manter um siheyuan…
Uma dessas pessoas, Zhao Ziyang, chegou a 1º Ministro e viveu no hutong Fuqiang. Talvez seja um dos líderes mais injustiçados da China. Foi ele que concebeu as reformas económicas pelas quais Deng Xiaoping é famoso. Implementou-as primeiro em Sichuan, conseguindo aumentos de produção industrial de 81% e agrícolas em 25% em apenas três anos.
Mas os conservadores do partido começaram de imediato a conspirar, apelidando-o de revisionista do marxismo, apesar de Deng Xiaoping o ter promovido até primeiro-ministro, impulsionando as reformas necessárias ao tal “milagre” do “um país dois sistemas”.
Acabou por não resistir aos protestos dos estudantes em Tiananmen, potenciando as críticas dos conservadores, que o responsabilizaram pelos protestos.
Ficou 15 anos em prisão domiciliária, no siheyuan do partido, anteriormente pertencente a um cabeleireiro da corte dos Qin, residente do hutong, até morrer de pneumonia em 2004.
Foram muitas as vozes, na China e fora dela, que pediram a reabilitação da sua memória. Mas até à data… nada.
Claro que em prisão domiciliária não podia aperceber-se da vida do hutong, cheio de ação e bulício, com comerciantes e fregueses, diariamente em ebulição.
É um espetáculo de cor e movimento, com pequenos comércios, por vezes apenas uma banca, e por vezes nem isso, vendendo desde alguidares a antiguidades, ou, sendo turístico, falsas velharias.
Ópera
Finalmente, não se pode partir de Pequim sem assistir a uma das suas óperas, também elas ligadas à dinastia Qin pois foi no seu reinado que se afirmou, especialmente já no século XIX em que se fixou na sua forma atual.
A Ópera de Pequim tem quatro tipos principais de papéis, sheng (cavalheiros), dan (mulheres), jing (homens rudes) e chou (palhaços). Naturalmente, as companhias de ópera têm vários atores de cada variedade, bem como vários artistas secundários e terciários. Muitas vezes, um ator desempenha mais do que um papel.
Graças ao guarda-roupa elaborado e colorido, são os artistas que centram as atenções no palco caracteristicamente vazio da Ópera de Pequim.
Este estilo de ópera utiliza as habilidades de fala, canto, dança e combate em movimentos que são simbólicos e sugestivos, em vez de realistas. Acima de tudo, a arte dos intérpretes é avaliada de acordo com a harmonia dos seus movimentos.
Estava já habituado à Ópera de Cantão, que tinha uma época especial em Macau, onde eram montados “teatros” em bambu e plástico tricolor, em vários locais, desde pequenos largos junto à Rua do Campo, até monumentais construções fugazes junto ao Templo de A-Ma ou em Coloane.
As diferenças não são imensas. As personagens são semelhantes, com diferenças na orquestra, temas e, claro, na língua usada.
A ópera chinesa tem sido o alfombre de artistas famosos, a começar por John Lone, que interpretou “O Último Imperador”, com formação na Ópera de Pequim, a Jackie Chan, com formação na Ópera de Cantão.
Há um filme, realizado por Alex Law, que não passou por Portugal, que descreve a difícil e penosa formação de um ator de ópera chinesa chamado “Painted Faces”, protagonizado por Sammo Hung, que também não é popular em Portugal, mas é muito famoso e premiado em Hong Kong e que ainda hoje Jackie Chan o chama de Taikoo, Grande Irmão, posição que detinha quando ambos frequentavam a escola China Drama Academy do Mestre Yu Jim-yuen, também ele um ator consagrado no cinema de Hong Kong.
Todos eles, à exceção de Lone, são protagonistas em inúmeros filmes de “Kung Fu” que passam frequentemente na televisão portuguesa. Sammo Hung que é, digamos anafado, é surpreendentemente ágil e proficiente na pancadaria…
Assisti com enorme prazer à representação no Teatro Liyuan, cheio a abarrotar, quer de chineses, quer de turistas, que aplaudiam, por vezes extemporaneamente, as deambulações pelo palco.
O teatro foi decorado de acordo com a tradição, tentando recriar a atmosfera clássica, apesar de ser parte de um hotel construído após a revolução maoista.
Além das cadeiras normais, pode escolher sentar-se ao redor de uma Ba Xi’an Zhuo (mesa quadrada antiga para oito pessoas) e beber chá ao longo da atuação, que foi precisamente aquilo que fiz.
Também se pode entrar no camarim para ver como os atores são maquilhados nas diversas e complexas pinturas faciais, algo que apenas acontece neste teatro.
À saída, tal como num qualquer parque temático, há uma loja de recordações onde se pode experimentar um vestido ou máscaras de ópera, comprar os seus instrumentos, pinturas, caligrafia, etc.
Saí, como se diz, de papo cheio, uma noite supimpa, para encerrar uma viagem, tantas vezes adiada, mas finalmente bem saboreada.