As respostas a “Uma dama de provecta idade”

As respostas a “Uma dama de provecta idade”

Para se contar a vida desta dama, temos de encurtar o calendário tal como o conhecemos e passar a usar decénios por unidade, porem continuando por conveniência a chamar estes de anos.

O seu nascimento, a 5 de Outubro (1143 – Tratado de Zamora – Fundação de Portugal), é muito atribulado pois sua mãe teve várias tentativas de engravidar, mas todas foram abortadas. (Lutas anteriores travadas por D. Afonso Henriques)

Quando nasceu foi retirada a ferros com muita dor e sangue. Mas também se conhece que outros familiares passaram pela mesma tormenta. (Quase todas as nações da Europa)

A sua adolescência não é brilhante e o seu crescimento é feito aos esticões, próprios de quem quer chegar depressa à maioridade. (A expansão do Condado Portucalense até ao Algarve)

Aos 24 anos trava a sua primeira batalha de adulta contra um primo que procurava nela o seu casamento. Prova que não é por ali que quer ir. (1385 – Batalha de Aljubarrota contra os Castelhanos)

A partir dos 27 anos percebe que pode crescer mais, ficar mais adulta e importante e decide que emigrar pode ser uma solução, mas as fronteiras são-lhe adversas. (1415 – Conquista de Ceuta)

Só aos 35 anos obtém passaporte para outras terras (1494 – Tratado de Tordesilhas, 1498 – Caminho marítimo para a India e 1500 – Brasil). Anda um pouco por todo o mundo em sucessivas viagens deixando aqui e acolá o reconhecimento do seu valor e também alguma linhagem. (Império Colonial)

Mas não sabe bem lidar com esses conhecimentos, tal como outras primas distantes conseguem fazê-lo, deixando laços até hoje indestrutíveis. (Commonwealth)

O sagrado esteve sempre por perto, mas só aos 40 anos se interessa e sério pela coisa religiosa, quando é confrontada com os temerários inquisidores de então e não consegue arrepiar caminho. (1536 – Inquisição a pedido de D. João III)

Tem um enorme desgosto com a morte do seu filho dileto, que tem um acidente (1578 – Alcácer- Quibir – Desaparecimento de D. Sebastião) do qual nunca se recuperará seu corpo. Fica enferma deste desgosto e sem pedir nada a ninguém, de novo aquele primo com quem não casou, vem e sem que lhe seja pedida ajuda, instala-se e dirige a sua vida debilitada. (Reinado dos Filipes de Espanha)

Acorda dessa letargia e fazendo das fraquezas forças, impõe-se aos 50 anos de idade, expulsando-o de casa.(1640 – Restauração da Independência)

Já então com 60 anos é sujeita a uma operação (1755 – Terramoto), após lhe ter sido detetada uma doença fortíssima que lhe ataca o coração.(Lisboa) Ainda não está refeita disso e eis que outros primos varridos da cabeça, invadem a sua casa (1807 – Primeira das invasões Napoleónicas) e não é sem o auxílio de outros familiares (Ingleses), inimigos daqueles bem entendido, que se consegue libertar daquela invasão, a que se sucede outra e finalmente ainda outra. Consegue restabelecer-se.

Vai para os 80 anos quando vê os seus netos envolvidos em lutas que ela julga serem simples birras, mas depressa repara que, sem escrúpulos, uns abatem outros, roubando-lhes a vida. (Assassinatos antes e depois de 1910 – Implantação da Republica)

Fica desgostosa, mas lá vê um dos netos (1926 Ditadura Militar e 1930 – Estado Novo com Salazar) tomar conta da situação, enquanto os descendentes daquelas viagens que fez em nova, reclamam o seu destino (1961 – Inicio Guerra colonial) procurando rasgar os laços até então estreitos. Estes conseguem, de novo com muito sangue o que querem, sempre contra a vontade do neto que sobressaíra e que entretanto tomara conta da casa.

Quando já depois dos 83 anos, acorda com sons de alegria julga que está de novo jovem e se apressa para também festejar (1974 – Revolução de 25 de Abril).

Mas já é tarde, pouco depois, metem-na num hospício (1985 – Adesão à Comunidade Europeia), onde estão todos os restantes familiares mais íntimos, uns com estatuto de vedetas e outros de pedintes. Ela que tanto pedira para ir para lá, fica desiludida.

Tem 87 anos (Hoje), pelo prazo parece ser o seu fim.

Maldita vida esta, na qual não se consegue ter esperança…

 

MFAleixo – Outubro 2014

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