Cãozoada dos Medos
Esta semana fui passear com a família para a Mata dos Medos. Adoro estas caminhadas e sinto-me verdadeiramente privilegiado por ter à minha disposição uma mancha florestal desta dimensão e qualidade.
Ladeando o quartel à beira da Fonte da Telha, pusemos pés ao caminho, iniciamos a caminhada, imersos na natureza, preparados para desfrutar de todos os sons, ares e vistas.
Infelizmente, logo ali, vemos à nossa esquerda uma matilha de 7 ou 8 cães de grande porte, ladrando ameaçadoramente.
Parámos nós mas os cães não. Avançaram um pouco, reforçando a ameaça.
Afinal, estávamos no território deles e não no nosso.
Ali perto, pudemos ver que alguma mão, decerto caridosa e bem intencionada, tinha colocado vários recipientes para comida e até alguns abrigos improvisados a partir de bidões.
Regressámos sem poder passear, com a cabeça cheia de perguntas.
Uma das primeiras questões é não vermos nenhum animal de porte pequeno, nem sequer médio, naquele grupo. Os cães são abandonados em todos os tamanhos. O que acontece aos cães mais pequenos?
Serão estes cães abandonados? Ou alguém faz da Mata o seu canil?
Compreendo (e apoio) que se protejam os animais e considero deplorável abandoná-los. No entanto, não estou disposto a entregar desta forma pedaços do território que considero meu, que todos podemos gozar, assim só porque… porquê mesmo?
A Mata dos Medos está repleta de animais selvagens. sempre esteve. Imagino que cada um deles terá algum conceito de território. Estou habituado a gerir esses limites. Normalmente os nossos territórios não entram em conflito. Mas há exceções.
Uma vez, num palheiro* que estava a recuperar junto a Santarém, um enxame de vespas instalou-se por baixo do corrimão do alpendre. Foram muitas e dolorosas ferroadas até lhes conseguir explicar que ali não era o território delas e que podiam muito bem escolher outro local.
Este caso é muito, mas mesmo muito diferente.
Antes de mais, esta matilha de cães não é natural daquele lugar. Aquela não é a sua natureza. Por diversas e diferentes razões para cada um deles, encontraram-se ali. Uma das razões para ali ficarem é que ali têm comida e abrigo.
E não terem alternativa.
Todos sabemos que esta situação – que já aconteceu no passado – decorre da aprovação da lei que proíbe o abate de animais.
Estou dividido em relação a essa questão. Abater animais é horrível, mas como sou carnívoro, fico prisioneiro da contradição. No entanto, aprovada a lei no Parlamento… Nada?
Tenho ouvido muitas críticas a esta iniciativa do PAN, no entanto, não ouvi ninguém dizer que, aprovada a lei (também com votos do PS) não houve o cuidado de implementar o reforço dos canis municipais, ou das diversas organizações que operam já no terreno.
E depois a realidade dá-nos uma bofetada: já há queixas de ataques destes cães. E não há reação. Lá continuam eles.
É evidente que aqueles cães se estão a organizar numa alcateia. Poucos segundos de observação revelam claramente a hierarquia.
Há alguma dúvida que esta situação só pode piorar?
* Palheiro é a classificação dada a estas edificações de arquitetura vernácula feita por pescadores. Aqui na Costa da Caparica, segundo estilos algarvios e outros da zona de Ílhavo. As casas de madeira que ainda temos implantadas no areal a sul, são herdeiras e continuadoras dessa tradição. A classificação pode ser consultada em: Oliveira, Ernesto Veiga de, Galhano, Fernando, & Pereira, Benjamim. (1994). Construções Primitivas em Portugal (3ª ed.). Lisboa: Publicações Dom Quixote.