Crónica de Guerra

Sobrevivi à guerra colonial. Seria mais correto dizer que sobrevivi à guerra no ultramar, que era como ela se dizia na altura.

A libertação do 25 de abril de 1974 libertou-me, não só da guerra, como me libertou de um regime que não me permitia assumir como indivíduo livre, com as suas opiniões e, sobretudo, com as suas opções.

Agora vejo com surpresa, depois de quase cinquenta anos de liberdade e de educação acessível a todos, estas queixas sobre as medidas do governo, que mais não são do que a queixa de não nos proibirem de fazer o que nós sabemos que não devemos fazer para nosso próprio bem.

Isto faz sentido?

Hoje mesmo vejo avolumar-se a questão das máscaras comunitárias, que segundo as análises laboratoriais protegem abaixo dos desejáveis 90% e que levou a Alemanha, França e outros países a proibi-las. Leio nas notícias que isso seria um problema para a indústria nacional.

E os efeitos da proteção deficitária, seria bom para a indústria nacional? Devemos inundar hospitais e aumentar a mortalidade para proteger a indústria nacional? E a indústria nacional atravessa tudo isto sem ser afetada? É imune?

Continuo a contorcer-me todo ao assistir às reclamações, veementíssimas, sobre a falta de médicos. Mesmo os representantes da Ordem respetiva, que tem lutado ao longo dos anos para não abrir mais cursos de medicina. E reclamam agora de não haver médicos suficientes.

Assisto às reclamações daqueles que disseram que o Estado estava gordo, que exigiram que só entrasse um para cada dois que se reformassem e, logo a seguir, uma admissão para três aposentações.

Não há polícias, médicos, professores… mas quem é que pensam que são os funcionários públicos?

Curiosamente, não vejo um único artigo a pedir que o Estado se reforce, que haja mais contratações. A não ser que chovam médicos e enfermeiros providenciais…

Muitíssimo mais grave, apesar de previsível, é a atual guerra das vacinas, a que mesmo a poderosa União Europeia não escapa.

Recordo vagamente de ver o inefável Durão Barroso feliz por ter sido nomeado presidente da Associação Global para as Vacinas, em setembro passado, pouco depois da Cimeira Global das Vacinas, em junho.

Agora os laboratórios dizem que os contratos eram de “intenção”, que só prometeram “fazer o melhor que podiam”.

E onde está o Durão?

Ouvi os responsáveis dos laboratórios produtores de vacinas invocarem a necessidade de todo o mundo ser vacinado como argumento para o incumprimento dos contratos celebrados.

Para nós, que ouvimos sempre que os contratos vergonhosos com a Lusopontes e com tantas PPP não podiam ser quebrados, isto soa a…

Não sei muito bem o que pensar, porque concordo que todo o mundo tem de ser vacinado, mas por outro lado, assinaram os contratos e receberam os milhões de adiantamento. No entanto, o pior é que não vejo todo o mundo a ser vacinado.

Ou seja, quem verifica estas coisas? É verdade que há vacinas que em vez de irem para os países mais ricos estão a ir para os países mais pobres? Ou a verdade é que vão para quem paga mais?

A suspeita não é minha, é da Comissária Europeia da Saúde…

E onde está o Durão?

4 thoughts on “Crónica de Guerra

  • 12 de Fevereiro, 2021 at 19:38
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    Ricardo Salomão! Só posso estar de acordo consigo. É mau por se ter cão e é mau por se não ter. Caso dos numeros clausus para formação de médicos que agora reclamam, e redução de funcionários públicos, (reformar 2 para entrar 1). A velha história do velho o rapaz e o burro…

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  • 4 de Fevereiro, 2021 at 22:47
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    Sobre as vacinas, há alternativas se Portugal é de facto um país independente.
    Quanto ao artigo, vai um grande “apoiado”.
    Abraço

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  • 3 de Fevereiro, 2021 at 18:48
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    Nada faz sentido no que se refere às vacinas. Parece que baixou um nevoeiro e tudo ficou difuso. No entanto, há um cheiro no ar, o cheiro do negócio ou das negociatas.

    Abraços

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  • 31 de Janeiro, 2021 at 23:44
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    Não vês artigos a pedir que “o Estado se reforce” porque não lês a imprensa onde, há anos, tal é … exigido.
    Onde anda o “cherne” ? Provavelmente a receber os donos em mais uma cimeira qualquer lá para os … Açores.
    Abração

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