Junto ao Mar…

Reflectindo junto ao mar…

« De pé diante dos Homens, de joelhos perante Deus » D. Manuel Ribeiro

 

Tenho na minha frente uma entrevista que D. Manuel Martins, antigo Bispo de Setúbal, deu à revista Ùnica, do jornal “Expresso”, em Fevereiro de 2005.

As suas palavras, sensatas, frontais, cheias de amor e sabedoria e acompanhadas de uma humildade, que nem todos os homens da Igreja possuem, deixaram-me a meditar!!!

Estou junto ao Mar, no distrito de Setúbal, onde este Homem de Deus, foi o fundador da diocese em 1975 e onde se manteve durante 23 anos. A história deste Bispo, que rotularam de “bispo vermelho”, porque na altura denunciou e viveu em comunhão a tragédia humana que se vivia neste distrito, onde o PREC tinha criado situações muito complicadas, nas empresas aí existentes. Estas situações angustiantes, de fome e de miséria, viveu-as D. Manuel Martins que não podia sózinho resolver tantos dramas aí vividos. Destas situações insustentáveis, resultaram tragédias humanas que levaram alguns ao suicídio, como ele relata na sua entrevista. Tudo isto aconteceu porque a passagem, da ditadura para a democracia, foi muito afectada por um PREC, que só ajudou a destruir o que existia e era produtivo, para tentar implantar outra ditadura, de sinal contrário, que só a força dos democratas, amantes da verdadeira liberdade, evitaram que acontecesse. Quando nas primeiras eleições após o 25 de Abril, que só foram possíveis pela imposição das forças não envolvidas nesse processo revolucionário, é que se conheceram os resultados, que demonstraram, que afinal era uma minoria organizada, que queria governar e impor uma nova ditadura. Desde a censura e destruição dos órgãos de informação que não alinhavam na ideologia dessa minoria, até muitos outros desvios do programa que os militares de Abril apresentaram ao país. Depressa os cravos vermelhos, que deviam ser de todos, começaram a ser só o símbolo de forças que procuravam impedir a liberdade e a defesa dos direitos humanos de que, ainda hoje, se dizem defensores.

O “bispo vermelho” não era dessa cor. Até foi muito mal recebido no inicio da sua ida para Setúbal. Foi só um defensor dos pobres, dos marginalizados, dos milhares de desempregados que ficaram sem os seus postos de trabalho, devido a esse processo revolucionário, que queria levar este país para outros caminhos que os Homens Livres de Abril, não aceitaram.

Todos queríamos levar uma vida, vivida sem peias e com sentido, e não viver inutilmente como disse D. Manuel Martins.Com estas palavras, deste Homem de coração enorme, termino esta minha crónica, olhando o mar: « Aquilo de que mais importante temos é a vida. Uma das vocações que devemos despertar em nós é o apreço pela vida e cantar a vida. A vida é tão bela e corremos o risco de passar ao lado desta beleza. A vida ensinou-me a apreciá-la, a tomar consciência dela e a construí-la cada dia que passa, não só na dignidade das minhas capacidades, mas também na descoberta da dignidade, das necessidades e da solidariedade para com os outros…É possível as pessoas nascerem, viverem e morrerem sem nunca se aperceberem que viveram…Há pessoas que vivem sem saberem que viveram e para o que viveram».

 

António José Zuzarte,  8 de Abril de 2008.

One thought on “Junto ao Mar…

  • 23 de Fevereiro, 2018 at 10:34
    Permalink

    Amigo
    Bela invocação de um grande homem, um homem como não há muitos.

    Reinaldo

    Reply

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Pin It on Pinterest