Sobre a Palestina
No passado dia 19 de fevereiro a Gandaia acolheu a sua Tertúlia Res Pública, como é habitual, coordenada pelo nosso sócio Reinaldo Ribeiro e que contou com a intervenção do investigador do Centro de História da Universidade de Lisboa e presidente do MPPM (Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente), Prof. Doutor Carlos Almeida.
A intervenção foi extremamente clara e detalhada e suscitou entre os numerosos participantes o mais vivo debate, entre os quais eu próprio.
Na verdade, coube-me defender – e não fui o único – a visão pouco popular, não da defesa das posições do estado de Israel, que considero indefensáveis, eu e boa parte do mundo civilizado, assim como a ONU, que condenou variadas vezes as ações de Israel. Mas como dizia, também não é possível branquear, ou deixar de criticar, as ações terroristas de organizações como o Hamas e mesmo a OLP, e também a violação dos direitos humanos que elas são responsáveis.
Sejamos claros. As razões pelas quais se condena os israelitas, os valores que são por eles violados, não são só aplicáveis a eles, são a todos os seres humanos. Os direitos humanos têm de ser respeitados por todos.
Na minha opinião, o terrorismo, seja praticado por quem for, é sempre repugnante. Não há qualquer justificação que permita o ataque a civis indefesos. Bem sei que o estado de Israel tem ações claramente classificáveis de terrorismo. Por isso é condenado. Bem sei que o poder internacional rapidamente cataloga de terrorismo uns e esquece ou ignora outros. Mas terrorismo é terrorismo e é sempre, mas sempre condenável, seja por quem for que o pratique.
Mas o que é terrorismo? Vejamos o que a Wiquipédia nos diz: “Terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, através de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, pânico e, assim, obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas, grupos separatistas e até por governos no poder.”
Aí está. É evidente que há vários governos no mundo a usar esta tática para atingir os seus fins. E é condenável. Repararam na parte do “ou psicológica”? Pois.
O Prof. Doutor Carlos Almeida abraçou admiravelmente a causa palestina e é de louvar que o tenha feito. Trata-se de um povo oprimido que precisa claramente de ajuda internacional e a dádiva da energia do investigador é evidentemente de aplaudir.
A minha questão é que não afirmar que as violações aos direitos humanos praticadas por quem também as sofre – como os palestinos – não ajuda a sua causa, antes a enfraquece. Usar estratégias terroristas contra Israel não ajuda. Violar os direitos humanos dos próprios palestinos, também não ajuda e isso deve ser claramente afirmado também. Os valores que servem para condenar uns, têm também de ser reconhecidos pelos outros. Se assim não for, como se poderá condenar Israel.
Na sessão foi posta em causa a veracidade dessa violação dos direitos humanos pelos palestinos contra os próprios palestinos. Ainda no finalo do ano passado, há alguns meses apenas, a Human Rights Watch apresentou um relatório eloquente sobre o assunto. Podem ver o artigo do insuspeito Diário de Notícias clicando aqui.
É esse o papel dos amigos: ajudar a encontrar os melhores caminhos. Compreende-se que o enorme sofrimento e injustiça a que o povo palestino está sujeito facilmente o leve a encontrar soluções que parecem justificáveis. Mas não são. Até porque não dão garantia de que a opressão israelita não seja simplesmente substituida por outra forma de opressão.