Dias de São Pedro

Há dias da nossa vida que ficam, para sempre, na nossa memória… o dia 29 de Junho, dia de São Pedro, reúne muitas efemérides que jamais esqueço.

Desde a minha infância este dia está presente com acontecimentos que ainda estão muito vivos no meu rol de recordações… O mais antigo que recordo, para aí com 72 anos já passados, foi uma Feira de São Pedro, na Vila de Fronteira, quando o meio de transporte era o carro de cavalos de meu avô, onde assisti, pela primeira vez, a uma sessão de cinema… foi num barracão da Feira, acompanhado das minhas tias. Eram imagens da Guerra, nos documentários, onde as populações famintas furavam sacos de farinha e a roubavam para lhes matar a fome…parece que estou a assistir, agora, no ecrán, a este pequeno apontamento de cinema…por alguma razão ele ficou gravado e se manteve na minha memória. Depois foi a viagem de regresso, no trem puxado pelos dois castanhos de raça Alter, nos 12 quilómetros que nos separavam da Aldeia de Santo Amaro e do “Monte do Cimo d’Aldeia, numa noite serena, quente, do Verão alentejano, encharcada de luar.

Cresci e comecei a pegar toiros e assim aparecem muitas corridas nesse dia do Santo da minha Vida (se tivesse sido pai de um filho, teria sido Pedro o seu nome)… Montijo, nas tradicionais Festas onde pegámos durante alguns anos e depois das corridas, nas festas de rua, comendo o tradicional polvo assado na brasa, na companhia de muitos amigos, entre eles o José Samuel Lupi e o saudoso “Balé”,até a noite se fazer manhã, Almeirim onde, em 1958, actuou o mítico Curro Romero, Léon lá no Norte de Espanha, que nunca mais esqueci o Fuentelespiño que me tocou, e Évora, a da velhinha praça do Rossio de S. Braz. Já crescido, e forcado dos de Montemor, recordo as antigas Feiras de Évora (S. João e S. Pedro) no largo de S. Braz, encostado à lendária praça de toiros, que me deixaram lembranças, que ficaram gravadas para sempre… pela noite dentro aquelas ceias, ou aqueles jantares prolongados pela madrugada dentro, nas barracas de comes e bebes, aquelas farras que terminavam com alguns copos a mais, mas onde não aconteciam zaragatas, nem confusões desnecessárias, com os acompanhantes ou com estranhos…benditos tempos de juventude que não regressam mais e onde enraizámos tantas amizades…velho terreiro de S. Braz que lá continuas, como há tantos anos atrás, com S. Pedros noutros moldes diferentes, talvez mais sofisticados, do que aqueles do passado. Nessas noites não era necessário ir até ao centro da cidade, lá para os lados do Teatro Garcia de Resende e dos Arcos do Aqueduto, só ali, no campo da Feira, se vivia, se convivia, sem ser necessário sair de lá.

O passado não condiciona o nosso presente pois, quando fazemos algum esforço para recordá-lo, verificamos que nada nos marcou negativamente… só crescemos e fomos, com o decorrer dos anos, aprendendo sempre mais, pois todos os dias aprendemos coisas novas, que nos ajudaram nesse crescimento, neste conhecer da Vida. Como escreveu Marta Santos in “Gita e outros contos”: «…a sabedoria não é coisa dos livros, sabedoria é Vida, são esses cabelos brancos, são essas rugas no teu rosto. Isso sim, é o saber…Ser sábio é continuar aprendendo, todos os dias, todos os momentos, é não julgar que já se sabe tudo!».

 

António José Zuzarte, Costa da Caparica, 10 de Dezembro de 2015.

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